Fios de luz e união

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*

Marie olhou para a tia que, assim como ela, aparentava estar desconfortável dentro das novas vestes. Lyla havia dado túnicas brancas para vestirem, enquanto aguardavam o retorno de Virnan e Fantin. O tecido, apesar de agradável, era muito fino e ligeiramente transparente.

— Você vê o futuro, então lhe pergunto: Conseguiremos fazer esse ritual? — A Grã-mestra perguntou, baixinho. Amarrou uma tira de tecido trançado na cintura e encerrou a troca de roupa.

Algum tempo se passou até que o spectu percebesse que falava consigo. Lyla tinha se distraído com os sentimentos que lhe chegavam através do laço que dividia com Virnan. Ergueu a vista para ela, que parou à sua frente na espectativa da resposta. Apesar da idade avançada, o tecido fino deixava à mostra carnes firmes e curvas que, dificilmente, poderia se esperar encontrar em uma idosa.

Melina repetiu a pergunta, aumentando a voz.

— A natureza da minha magia é tão rara quanto a de Virnan. Consigo manipular o tempo. Posso ver o passado e o futuro; este último, não muito além de sete dias.

Limpou a garganta e acomodou-se sobre um dos bancos à volta da fonte. Pousou o olhar em Marie, que auxiliava Tamar. A bibliotecaria vestia-se alheia à conversa, já que seus pensamentos estavam completamente voltados para Fantin.

— Mas você descreveu uma visão de séculos. — Melina recordou. — Viu o futuro de Virnan; por isso trabalhou para nos unir aqui. Não?! — A observou deslizar a mão pelos cabelos negros; a pele pálida refletia a luz que se projetava das paredes, dando-lhe um aspecto fantasmagórico. Certamente, falava e portava-se com a altivez de uma rainha, mas trazia no semblante a melancolia que, muitas vezes, enxergava nos homens que não eram capazes de esquecer as tragédias da guerra.

— O que vi foi o futuro deste mundo, não o dela. E isso só foi possível porque tentei lhe tirar a Pedra das mãos. Minha magia foi ampliada, assim como a dela foi no momento em que a usou. — Interrompeu-se por um instante, captando uma ligeira tristeza, através do laço com a irmã.

Por sua vez, Melina a encarava, imaginando como teria sido no passado. Seguramente, devia parecer-se com um "pequeno sol"; era assim que a mãe, em sua infância, lhe explicava como devia ser uma rainha. Obviamente, uma boa aparência impressionava, mas o que a mãe realmente estava falando era sobre a forma de agir e pensar em prol do seu povo. E diante de tudo que aquela mulher tinha feito, não havia dúvidas de que era uma verdadeira soberana.

— Na verdade, Melina, nunca tive controle sobre as visões do futuro. Elas simplesmente me assaltam nos momentos mais inconvenientes. — Sorriu, como se achasse aquilo engraçado. De fato, tinha sido em alguns momentos da vida. — Com o passado é diferente, afinal é imutável. Tenho acesso a ele quando toco objetos ou pessoas, mas posso controlar quando e como irei vê-lo.

Fez nova pausa, prendendo a atenção em Marie, que havia se juntado a tia.

— O que vi a respeito de vocês, pode ser considerado apenas impressões. A magia oferece sempre duas visões; se quiserem entender assim.

Descansou o queixo na mão. O gesto a fez parecer ainda mais jovem do que seus traços demonstravam.

— Como disse antes, o futuro muda a cada vez que se olha para ele. Então, a segunda visão se trata apenas de possibilidades; imagens desconexas e borradas. Mas a que tive foi suficiente para entender que havia uma chance de impedir o fim de Domodo e os outros mundos.

Apertou os olhos, enquanto Melina fazia a gentileza de traduzir os gestos da sobrinha.

— Então, você não tem ideia se tomou as decisões corretas, nem se conseguiremos realizar esse ritual.

A Ordem: O Círculo das ArmasWhere stories live. Discover now