O sinal verde

148 32 6
                                    


*

Do alto de uma colina, a uma distância ainda pequena de Valesol, a princesa Emya interrompeu a caminhada para voltar-se na direção da fortaleza. Os pés afundavam no terreno saturado de água aumentando o esforço da fuga apressada. Ofegava, enquanto deslizava o olhar castanho até as muralhas centenárias.

A magia subia aos céus, perseguindo um grande pássaro vermelho, enquanto os sons da destruição que a luta causava, chegavam a se igualar aos da tempestade e se propagavam por algumas distâncias, assentando o terror no coração dos homens.

Depois de ver os primeiros momentos do confronto, Emya aceitou a sugestão da tia. Contudo, o pesar lhe comprimia o peito, ao mesmo tempo em que se permitia sentir alívio por terem conseguido evacuar a cidadela completamente, antes que os inimigos chegassem. Com exceção de Melina, permaneceram na fortaleza apenas um pequeno contingente de soldados, liderado pelo Comandante Guil e quatro manirs axeanos.

Emya baixou a vista para o chão, quando a mão de Mestre Lian pousou em seu ombro, oferecendo um aperto suave. Encarou-o, emudecida. Este, por sua vez, lhe dedicou um sorriso condescendente e a incentivou a continuar, mas ela permaneceu no mesmo lugar.

— É isso mesmo? — Indagou, fazendo a voz se elevar além dos sons da natureza e da destruição que deixaram para trás.

Os nobres, que a seguiam de perto, interromperam os passos. Pouco a pouco, foram imitados pelos soldados que os protegiam. Emya concluiu:

— Fugimos, enquanto entregamos nosso destino às mãos delas?! — Cerrou um dos punhos, apoiando-se na árvore sob a qual se abrigada.

— Não deveria se deter nesse tipo de conjectura, Princesa. — Aconselhou Lorde Calil, indulgente. — Tenho certeza de que seu marido diria o mesmo. Sem dúvida, ele iria querer que preservasse sua vida e...

Ela girou sobre os calcanhares, chutando um pouco de lama, abespinhada.

— O senhor não tem ideia do que o meu marido faria! Esteja certo de que não seria enfiar o rabo entre as pernas e fugir, deixando que aquelas mulheres lutassem em seu lugar!

O lorde desmanchou-se em pura surpresa ao ouví-la falar daquela forma bruta e nada condizente com o que se espera de uma nobre, principalmente, uma princesa. O mesmo ocorreu àqueles que os cercavam. Ele se aprumou, pigarreando.

— Perdoe-me, Princesa Emya. Não foi minha intenção falar de Lorde Verne como se ele fosse um covarde. Conheço seus feitos e estou certo de que será um excelente rei e guiará Midiane para uma nova era de prosperidade.

— Estou cansada disso! — Ela foi cortante. — Quando irão parar de me tratar como um mero adereço?! Lorde Verne será rei porque "eu" serei a rainha! Midiane é o meu reino e está sob a orientação da família d'Santuria há gerações. E você está correto sobre uma coisa, Lorde Calil, meu marido não é um covarde e, certamente, não deixaria Valesol desta maneira.

Sua revolta era tamanha, que ele sequer ousou pensar em retrucar novamente, embora Emya o tenha fitado pelo o que lhe pareceu uma eternidade à espera disso. Seu olhar era um claro desafio.

Ela tomou um alento, afastando os cabelos da face.

— Por tudo que ouvi hoje, estou certa de que, mesmo que não possamos matá-los, ainda podemos ferí-los — a princesa observou, retornando ao assunto que verdadeiramente lhe atormentava.

— Isso é insensatez, Altesa. — O príncipe Danio intrometeu-se na conversa, compreendendo onde ela queria chegar com o comentário.

Um homem largo e musculoso, resvalou o braço nele quando se aproximou do círculo que a conversa formou.

A Ordem: O Círculo das ArmasWhere stories live. Discover now