Traiçoeiro

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Os soldados axeanos avançaram em direção ao grupo midiano.

A primeira lâmina que desceu em direção a face da mulher foi rechaçada pelo Comandante Guil, que lhe tomou à frente. O golpe seguinte decepou a mão do soldado axeano que a atacou e, enquanto ele urrava de dor, a espada do comandante encontrou abrigo em seu peito.

Pelo flanco esquerdo, outro soldado tentou quebrar a formação em volta dela, mas o homem que ocupava aquela posição se adiantou para enfrentá-lo com um ligeiro sorriso. Ele desprezou a espada que trazia na cintura e retirou um par de bastões que estava preso em uma cinta às suas costas. Os girou nas mãos com a habilidade e familiaridade dos anos de uso. Com o bastão esquerdo afastou a espada do axeano e o golpeou no abdômen com o direito. Quando este se curvou, desferiu um golpe no rosto e encerrou o combate ao atingir-lhe a nuca.

Lorde Axen riu, divertido com a cena e, ao mesmo tempo, cheio de curiosidade. Fez um gesto para que os homens interrompessem o avanço.

— Pensei que a Ordem não tomava partido nas disputas de outros — comentou, mirando intensamente o homem com os bastões; arma que, sabia, era de uso dos guardiões ordenados. Além disso, seu olhar perspicaz, apesar da distância e da pouca luminosidade, capturou o símbolo da irmandade gravado neles.

O homem, por sua vez, arrastou os cantos da boca para o alto, dizendo:

— E continua não tomando. — O guardião Petro recolheu os bastões, devolvendo-os à cinta nas costas. — No entanto, ao sermos atacados, temos o direito de nos defender. — Retornou para junto dos companheiros.

O comandante midiano tomou uma posição de defesa, desafiando o lorde e seus homens com o olhar. A mão delicada da mulher que protegia pousou em seu ombro com um aperto suave.

— Agradeço sua gentileza, Comandante, mas sou perfeitamente capaz de me proteger. Sua missão aqui já chegou ao fim e há outro assunto importante ao qual precisam dar atenção.

Um vinco se formou entre as sobrancelhas de Ilan Dastur. As coisas não estavam se passando como planejou. O Comandante Guil o encarou por um breve momento, depois analisou os guerreiros à frente, com um desejo assassino a lhe dominar os traços. Contudo, ela tinha razão. Naquela noite, sua função era apenas servir de testemunha, então, por fim, guardou a espada e inclinou-se para a mulher, em uma curta reverência.

Ele se voltou para os companheiros. Os dois com capuz repetiram seu gesto, mas Petro parecia estar em dúvida sobre o que fazer, já que não lhe agradava a ideia de deixá-la sozinha. Mas logo recordou quem ela era e acabou por se afastar, dizendo:

— Foi uma honra, senhora.

Palavras que se repetiram na boca de Mequias, quando este retirou o capuz, revelando-se. O homem ao seu lado também mostrou a face e Ilan Dastur rilhou os dentes ao reconhecer o comandante da guarda pessoal do príncipe regente de Bévis. Repetiu o movimento com mais intensidade ao dar-se conta de que tinha sido atraído para uma armadilha e acabara de perder seus maiores aliados.

— Sinto grande prazer em lhe informar, Lorde Axen, que seus planos falharam e os seus "estúpidos não aliados" se encontram vivos, em segurança e negociando um tratado de paz com a Princesa Emya. — Disse a mulher. Sob a luz amarelada das chamas das tochas, Ilan vislumbrou o princípio de um sorriso na boca carnuda e vermelha dela, cuja maior parte da face ainda se mantinha oculta pelas sombras e dobras do capuz.

— Quem é você?! — Rosnou.

Ela fez um gesto vago, sussurrando algo para o vento, e um círculo mágico, feito de luzes, surgiu à sua frente.

A Ordem: O Círculo das ArmasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora