Sombras

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*

Emya aspirou o ar frio da manhã que se iniciava com prazer. Sua montaria parecia perceber a alegria que a tomava e trotava em ritmo constante, emitindo alguns relinchos, quando recebia um afago da dona.

Quando avistou as muralhas de Valesol, um sorriso largo tomou a face nobre e, ao seu lado, Lorde Calil repetiu o gesto, encantado com a beleza da fortificação ao longe e, também, da princesa.

— Me sinto da mesma forma — disse ele, compreensivo. — Já temos problemas demais para nos deixarmos arrastar para uma guerra...

Ela meneou a cabeça. Tinha várias respostas afiadas para aquele comentário, mas preferiu não sonoriza-las. Afinal, o assunto estava quase resolvido e não valia a pena aumentar a tensão, inflamando o ego de homens tão orgulhosos. Incitou o cavalo a ir um pouco mais rápido.

Tinha achado por bem acompanhar os Manir e os ordenados até o local onde o exército axeano se reunia à espera da ordem de seu lorde para atacar a fortificação midiana.

Caminhar em direção ao exército inimigo, mesmo que ao lado de seus nobres comandantes, não deixava de ser uma decisão arriscada. Mas o fato daqueles homens garantirem que estavam em paz, nada lhe dizia até que seus subordinados fossem informados disso. Neste ponto, era muito parecida com Verne. Gostava de ver as coisas acontecerem para não ser pega de surpresa no meio do caminho.

Houve um alvoroço entre os oficiais que estavam à frente do exército axeano, naquele momento. Entretanto, nenhum deles desejava ir contra os líderes das famílias que compunham o reino e, como Lorde Axen não se encontrava presente, nada podiam fazer, exceto, obedecer.

Sobraram desconfianças, claro. Mas a presença dos ordenados e dos líderes dos reinos vizinhos não deixava muita brecha para argumentos contrários. A paz era uma realidade.

No fundo, todos queriam isso.

E era com uma grande sensação de dever cumprido que Emya retornava para Valesol, ainda em companhia de alguns Manirs e dos outros nobres estrangeiros, cuja intenção era oficializar a paz ao assinarem um tratado, do qual os termos seriam discutidos ao longo do dia.

**

Marie encarou Ishtar com desconfiança e o mesmo aconteceu com Verne. O espírito tinha acabado de se materializar no meio do salão em que conversavam. Institivamente, Távio e Fenris puxaram as espadas, enquanto o lorde apenas pousou a mão sobre a sua, ainda na bainha.

Até mesmo os espíritos, Joran e Bórian, se mostraram surpresos com a visita.

Um espírito da tempestadeBórian informou aos outros e Joran completou:

— Dificilmente se deixam ver. O que o traz aqui, Natural?

Tamar, que estava enroscada em Fantin, com o rosto enfiado entre os cabelos dela, afastou-se para ver o que se passava. A mestra loira estava recostada a uma das janelas do salão. Ao perceber a presença do espírito, afastou-se de Tamar e caminhou até ele.

Havia passado grande parte da noite observando o firmamento com tamanho desalento na face que a companheira lhe estranhava. E mesmo após o raiar do dia, ainda aparentava estar distraída.

Seu alheamento também não escapou ao olhar perspicaz de Melina. Entretanto, a grã-mestra estava mais preocupada com Marie. A sobrinha não escondia a aflição pela esposa e muito menos a raiva que a tomava. Tinha, literalmente, caminhado alguns quilômetros pelo cômodo, até dar-se por cansada e sentar em uma das cadeiras em volta da mesa que era usada pelo extinto Conselho Ancião.

A Ordem: O Círculo das ArmasWhere stories live. Discover now