Spectu to Castir

143 29 1
                                    


*

Foi apenas o correr de um piscar de olhos, não mais que o tempo do bater de asas de uma mosca e o destino que parecia certo para Marie, mudou. Tanto ela quanto "Vermelho", demonstraram surpresa e confusão ao encararem o coto a jorrar uma grande quantidade de sangue fétido, onde antes estava o braço dele. O mesmo braço que deveria ter ido de encontro à mestra e, certamente, lhe ceifado a vida.

A dor se fez notar logo e "Vermelho" deixou escapar um berro horripilante. Na parede, atrás dele, uma das lâminas de gelo de Voltruf estava fincada e suja de sangue. No chão, o membro decepado.

Marie deixou um suspiro rápido escapar e aproveitou o momento para investir no contra-ataque. As machadinhas tucsianas deixaram um rastro luminoso quando golpeou a Sombra, mas para seu desgosto, ele se recuperou rápido do susto e desviou facilmente.

"Vermelho" se afastou por alguns metros. De fato, ele e o companheiro eram bem diferentes das Sombras que Marie encontrou antes e isso a fez imaginar o quão desastroso seria se o exército de Érion fosse composto somente por criaturas como aquela. "Vermelho" transbordou maldade quando ergueu o coto e fez a mão crescer novamente, levando a mestra a se perguntar se era mesmo possível matá-lo.

Voltruf apareceu no seu campo de visão, saltitando e correndo pelo lugar para escapar das investidas de "Branco", mas não conseguia se livrar dele por muito tempo. A impressão que Marie tinha, era de que a Sombra brincava com o espírito, assim como o gato faz com o rato antes de devorá-lo. Era provável que, se Voltruf ainda estivesse viva e não se encontrasse caminhando para a exaustão, a luta fosse diferente. Mesmo assim, a mestra ordenada sabia que ela estaria em desvantagem.

A maneira que Voltruf encontrou de lidar com a velocidade de "Branco", foi aproveitando-se do cenário criado por Marie. Ela enfiou-se entre as inúmeras estacas conjuradas pela mestra a fim de limitar os movimentos dele. Dava passos miúdos e apressados, muitas vezes, pisando nos corpos no chão. "Branco" a seguia de perto, despedaçando as estacas com as garras longas. Em retaliação, Voltruf manipulava o chicote líquido, por vezes dividindo-o para atacá-lo em mais de um ponto. Noutras, conjurava lâminas de gelo e as lançava repetidamente na esperança de ferí-lo.

Conseguiu alguns acertos, mas Sombras brancas e vermelhas não morriam facilmente. Desde que se mantivessem em movimento, matá-los era uma tarefa quase impossível.

Durante a larga vida como castir, nunca se deparou com tais inimigos. Era um fato que ela apreciava imensamente. Muitos castirs pereceram nas mãos daqueles monstros e quase nada havia restado de seus corpos para os companheiros realizarem os ritos funerários. Havia histórias de que um Círculo Castir inteiro foi massacrado por uma Sombra Branca e Flyn amargou quase 20 anos sem a proteção deles.

Durante um breve momento de hesitação de Branco, Voltruf avistou quando "Vermelho" se aproximou de Marie e direcionou uma das lâminas congeladas para ele. Foi um lançamento preciso e o fato da Sombra não estar lhe prestando atenção ajudou bastante. Contudo, essa investida a deixou exposta para "Branco". Ele quase lhe arrancou a cabeça, mas ela jogou-se de lado e rolou até a parede próxima. Ergueu-se, tentando articular algum plano de ação, mas então se deu conta de que "Branco" havia chegado perto o suficiente para conseguir matá-la.

O chicote enrolou nas pernas dele, mas já estava tão desgastada que ele sofreu apenas um arranhão em vez da decepação que planeava. "Branco" lhe envolveu o pescoço com uma mão tão fria quanto o gelo que ela conjurava. Ele a pressionou contra a parede, usando a mão livre para traçar caminhos de sangue no corpo dela. Voltruf quis gritar, mas nenhum som lhe escapava e percebeu que "Branco" começava a se alimentar dela, sugando o resto de suas forças através do contato.

A Ordem: O Círculo das ArmasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora