Um Amuleto de Sangue

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Marie encontrou as companheiras em uma sala de jantar reservada. Ela ficava no fim de um corredor estreito e escuro, nos fundos da taverna da estalagem. Um privilégio pelo qual Verne tinha pagado mais caro para que pudessem se manter incógnitos e conversar sem reservas. Contudo, enquanto a dona da estalagem a conduzia para lá, notou que o restante dos homens que acompanhavam o badir, estavam sentados em uma mesa próxima a porta. Fingiam beber e jogar, mas estavam atentos ao resto do salão. Um deles lhe dirigiu um cumprimento quase imperceptível e voltou a baixar os olhos para as cartas.

O Lorde se pôs de pé ao vê-la adentrar na sala e ofereceu o seu lugar a ela, que agradeceu com um gesto gentil, mas optou por sentar entre Virnan e Melina. A mesa estava posta e, obviamente, todos tinham comido satisfatoriamente. Ainda assim, havia bastante comida. Virnan, gentilmente, lhe serviu sem indagar sobre suas preferências, já que era conhecedora dos seus gostos alimentares.

Dedicou-se a saciar sua fome, apreciando o silêncio que faziam. As lembranças do sonho que tivera ainda estavam bem vívidas na mente e o medo que sentiu, permanecia. Ergueu a vista para o badir, capturando uma nota de tristeza em sua face.

Ele aparentava ter envelhecido dez anos em um dia e Melina também se encontrava com semblante carregado. Não poderia ser diferente, já que tinham passado o dia em rituais funerários.

— Amanhã iniciaremos nossa viagem por terra, já fizemos os preparativos. Tornou-se impossível prosseguir de navio, já que os estragos foram grandes e os consertos podem durar algumas semanas. — Melina informou. — Depois que partirmos, Irmão Jonis irá procurar o auxílio da casa de apoio da Ordem na cidade. Até lá, iremos nos manter incógnitos.

Verne tamborilou os dedos na mesa.

— Concordamos que é melhor seguirmos viagem em um grupo menor, para não chamarmos a atenção. Como a grã-mestra não abriu mão de tê-las conosco, nos dividiremos em dois grupos.

Estava claro que eles tinham discutido sobre o assunto ferrenhamente e o lorde perdeu a discussão. Ele desejava seguir viagem com Analyn e a grã-mestra, enquanto as outras iriam em outro grupo. Era uma decisão sensata, Melina reconhecia, mas estava decidida a manter todas juntas e usou como argumento a batalha do dia anterior.

Se fossem emboscados por outro grupo axeano com membros manipuladores de magia, teriam mais chances de reação se estivessem todas juntas. Apesar de que, na vez anterior, somente Virnan e Marie tenham reagido de fato.

A tensão entre eles crescia a cada olhar trocado, no entanto ambos eram líderes e obrigavam-se a manterem uma polidez no trato, a fim de evitar animosidades desnecessárias, diante de uma situação já delicada.

— Fenris e eu as acompanharemos. O restante dos meus homens e outros ordenados partirão ao amanhecer, enquanto nós deixaremos a cidade ao entardecer e nos encontraremos com eles daqui cinco dias. — Finalizou o badir, com voz rouca.

— Acha sensato? — Fenris arriscou-se.

— Já está decidido — o lorde respondeu, deixando claro que não havia espaço para mais perguntas.

Ele caminhou até um pequeno barril no canto da sala e encheu uma caneca de cerveja para si e outra para o cavaleiro. Virnan fez o mesmo com um jeitinho jovial e Fantin a seguiu, achando graça dos homens que estranharam a escolha, pois a bebida não costumava ser apreciada por mulheres em seu reino.

O lorde tomou um gole farto e deslizou a mão pela barba.

— Já que não podemos ir pelo mar, só há uma rota possível para chegarmos a Cidade dos Eleitos. Teremos de seguir até a fronteira de Axen e cruzá-la. São três dias de viagem até lá e mais dois pelas terras axeanas...

A Ordem: O Círculo das ArmasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora