O inimigo é a Ordem

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Joran apoiou-se em uma árvore, ocultando-se dos olhos inimigos. Eram poucos, mas suficientes para causar um grande estrago no exército aliado. O espírito castir tomou a dianteira do exército, fazendo as vezes de batedor. Precisava ter uma ideia do que encontrariam adiante e, também, se certificar de que os planos correriam bem.

As unhas dele resvalaram na bochecha como se estivesse tentando se livrar de uma coceirinha qualquer. Na realidade, nada sentia fisicamente, além do poder que emanava das correntes mágicas do mundo. Estreitou os olhos, como se estivesse forçando a vista para ver mais do que estava diante de si. Era apenas um tique que a morte não lhe tirou.

Ele correu para outra árvore. Os passos eram leves, quase inaudíveis e não chamaram a atenção dos inimigos. Joran inspirou fundo, fazendo uma careta para o cheiro de podridão que uma ligeira corrente de ar levou para ele. Era a primeira vez que se deparava com as Sombras que Virnan descreveu e realmente lhe surpreendeu o fato de aparentarem serem humanos comuns.

Retirou a espada da bainha devagar, lançando um olhar para o mago Anton oculto por outra árvore, metros atrás. Ao lado dele, Jeil e Iberion conversavam através de gestos secos, decidindo a melhor abordagem. Joran ainda não sabia o que pensar sobre aquelas pessoas. Não tinha certeza da forma como poderia enxergá-los. Eram humanos, mas se pareciam com aurivas e mantiveram algumas de suas tradições com o passar dos séculos. Ele não estava certo se isso o deixava receoso ou irritado.

Os axeanos decidiram atacar pelo flanco esquerdo, fornecendo uma distração para que Joran pudesse matar as Sombras. Eles adiantaram o passo, passando por gravetos e folhas secas quase sem ruído.

Enquanto estivessem na forma humana, os axeanos poderiam ferir as Sombras. E se o espírito castir desse uma "ajudinha" fornecendo um pouco do fogo da sua magia espiritual, se tornariam um grupo pequeno em tamanho, mas poderoso em habilidades.

Foi Jeil o primeiro a atacar, despencando de uma árvore sobre os inimigos que passavam debaixo dela. Ele não empunhava nenhuma arma e quando pousou sobre a primeira sombra, Joran compreendeu o motivo de Tamar ter pedido que ele levasse aqueles humanos consigo.

Jeil era um manir feroz. Os braços longos permitiam que as mãos alcançassem os pontos vitais dos adversários sem expor seu próprio corpo. Ele tinha movimentos ligeiros e elegantes, mas nem de longe poderia ser comparado com um manir florinae. Iberion era a personificação desse fato. Seu modo de lutar era semelhante à aparência que tinha: brutal.

Diferente deles, Anton era a calma em pessoa. Em vez de atacar usando o manibut, ele optou por usar a parca magia que possuía, criando uma fina camada de gelo no chão e dificultando a movimentação das Sombras. Manipulava a magia de forma a facilitar as passadas dos companheiros e isso impressionou Joran.

Uma ponta de sadismo fez Joran permanecer quieto em seu esconderijo, apenas assistindo enquanto se perguntava quanto tempo eles aguentariam. Era errado, injusto e cruel, ele sabia. Contudo, o orgulho deminara lhe pesava lembrando-o do quão poderoso seu povo era e, no entanto, naquele momento, dependia do auxílio de reles humanos para sobreviver e trazer o equilíbrio de volta ao "Todo".

Piscou algumas vezes, aclarando a mente e afastando esses pensamentos daninhos. Jeil foi lançado contra uma árvore e o som de ossos se partindo sobrepujou ao da espada que agora Anton empunhava com habilidade. O som do metal se chocando contra a arma do seu adversário, causou uma estranha euforia no espírito.

Iberion urrou de fúria quando a lâmina do seu oponente rasgou-lhe o peito em um golpe transversal, que teria sido fatal se ele não tivesse percebido o movimento e saltado para trás. Ele caiu sentado, surpreso por ainda estar vivo. Rolou para o lado, a fim de escapar de novo golpe.

A Ordem: O Círculo das ArmasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora