Zefir

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*

Érion sorriu para o homem de pele morena e olhos negros sem pupilas. A Sombra de Zarif, que se autonomeava Zefir, cruzou os limites da tenda em que o Cavaleiro se abrigava.

— Você parece aborrecido. — Érion comentou.

A Sombra o fitou com desdém.

— Achei que íamos massacrar este reino, mas até agora só estamos batendo em barreiras mágicas.

Érion arqueou os lábios.

— Sua impaciência é quase tão irritante quanto a de Zarif. Quase sinto falta dele.

Zefir rosnou em resposta.

— Ao menos me deixe queimar o exército humano que está vindo para cá.

— Por que deveria deixar você fazer isso? Será mais divertido vê-los sendo despedaçados quando aqui chegarem. Além disso, mal posso esperar para ver o desespero das minhas irmãs quando se derem conta que seus esforços foram em vão.

Ele fechou os olhos e inspirou fundo, como se estivesse aspirando a glória que o esperava diante dos Portões. Unificaria aquele mundo de vez e reinaria absoluto caminhando sobre os cadáveres dos seus inimigos. Sorriu largo e encarou Zefir, deixando-se imergir nas sensações que as oscilações de magia nas barreiras emitiam.

Limpou a garganta para falar, mas Zefir se adiantou:

— Algo ou alguém saiu das proteções. — Mirou o mestre, lendo em suas feições o que desejava. — Irei investigar.

**

— Você não parece bem. — Virnan observou com um sorriso irônico e recebeu o olhar assassino de uma Fantin muito pálida. — Tem medo de altura?

A mestra baixou a vista para os pés e seu desconforto aumentou ao constatar que o chão estava a centenas de metros abaixo. Naquela altura, a cidade não passava de borrões estranhos em meio a uma grande clareira. Fantin inspirou profundamente, afastando uma leve tontura.

— Não tenho nenhum problema com altura, só com a possibilidade de despencar do céu e acabar me transformando em uma mancha vermelha e disforme no chão. — Declarou, fitando a amiga, para afastar o olhar rapidamente, mirando a direção de onde vinha o perturbador som de uma explosão.

O ataque a Flyn se intensificou com o raiar do dia e a cidade inteira sofria abalos a cada nova investida contra as barreiras. Virnan esperava por isso, mas não imaginava que as arremetidas seriam tão brutais ao ponto dos inimigos conseguirem romper a segunda proteção pouco antes do nascer do sol.

Por isso, naquele momento, as duas ordenadas se encontravam a centenas de metros acima de Flyn. Pisavam no vazio, graças a magia de Virnan, que aumentou a resistência do ar para lhes permitir tal feito.

Lyla esticou-se ao lado delas, relaxando os músculos após levar as duas até aquele ponto. Ela arriscou uma olhadela para Fantin e pensou em complementar a piada de Virnan, mas decidiu que não cabia naquela conversa, então retornou para a forma animal e planou à volta delas, vigiando o entorno. Era apenas uma precaução, já que a possibilidade de serem atacadas naquela altura fosse quase nula.

Assim que Fantin terminou de falar, a resistência sob seus pés diminuiu e ela despencou por meio metro, deixando um gritinho escapar. O pânico que a tomou deu lugar a raiva, quando ouviu a risada escandalosa de Virnan.

— Para o inferno, Virnan! Quando descermos, eu vou te matar! — Ela se recompôs, berrando.

A explosão de raiva só fez com que a risada de Virnan aumentasse e, por algum tempo, Fantin foi obrigada a ouvi-la. Mas apesar do susto, ela admirou o riso solto que a fez recordar a jovem guardiã irresponsável e brincalhona da Ordem; aquela que pregava peças nos companheiros, cativando muita confusão.

A Ordem: O Círculo das ArmasWhere stories live. Discover now