O palácio do sul

417 62 6
                                    


A noite tinha chegado havia algum tempo quando assentaram acampamento. Prepararam e compartilharam a refeição sem palavras, recolhidos aos seus próprios pensamentos. Ninguém parecia estar disposto a conversar, muito menos discutir. Contudo, Fenris não conseguia mais segurar a curiosidade e puxou uma conversa fiada, agachando-se ao lado de Lorde Verne, que dedicava algum tempo a polir a espada.

O nobre limitou-se a responder monossilabicamente: sim, não, talvez. Por fim, o rapaz atacou:

— Sei que sou apenas um soldado e algumas coisas não são da minha alçada, mas até algumas horas atrás, você desejava retornar para a fronteira de Axen.

Verne parou de polir a espada, erguendo a vista para ele. Fenris não era apenas um soldado, como gostava de dizer. Ainda que distantes, eram parentes, e sempre o considerou um amigo, mesmo que não tivesse o hábito de demonstrar isso.

— Posso estar passando dos limites, mas quando deixamos Midiane éramos dez e agora... Enfim, tínhamos a missão de levar a princesa para a Cidade dos Eleitos, mas pelo o que entendi da conversa que presenciei mais cedo, os planos mudaram. O que não entendo é o motivo de você ter concordado tão facilmente. Agora segue as ordens da Guardiã Virnan sem questionar.

— Está com medo?

Ele se empertigou, a face sombria graças a pouca luz que atingia o local onde conversavam.

— Não é esse o caso. Lhe fiz um juramento. Vou segui-lo aonde for, lutarei suas batalhas e o protegerei. Vivo pela espada e certamente morrerei por ela. O que estou lhe pedindo é para não me deixar no "escuro" quanto às suas decisões. O que ela disse para que mudasse de ideia?

Verne semicerrou os olhos, recordando a conversa que teve com Virnan longe dos ouvidos dos companheiros. No fundo, ainda duvidava de suas palavras, mas o desejo de que fossem verdade imperava e, enquanto ela fizesse por merecer aquela confiança, a seguiria. Não apenas pelo bem de Marie, mas pelo bem de todos os povos daquele mundo.

— Ela me ofereceu uma alternativa, uma possibilidade de pôr um fim nisso tudo. Disse que podemos matar o Cavaleiro e salvar Analyn.

— Como?

— Refazendo o círculo de armas em que ele foi aprisionado.

***

Marie brincava com a ponta da trança, enquanto Melina fazia o mesmo com o medalhão em seu pescoço. A guardiã não estava à vista, assim como Verne, que tinha adentrado na floresta acompanhado por Fenris e Távio, alegando que iriam fazer uma ronda.

A grã-mestra aproveitou a ausência deles para conversar com a sobrinha. Liberou sua magia, gerando um arquear de sobrancelhas dela.

— Quase consigo enxergar as dúvidas que rondam sua mente — disse em tom de brincadeira.

Marie suspirou, ainda calada. Obrigou-se a abandonar suas divagações e lhe prestar atenção.

— É tão ruim ter esperança? — A tia perguntou.

— Esperança é o alimento dos desesperados e há muito tempo não sei o que é isso. O que eu tenho é medo por ela e por vocês.

Soprou o ar, afastando uma mecha de cabelos que lhe caía sobre a face. Isso arrancou um riso de Melina, pois lhe pareceu muito infantil.

— Não entendo o porquê dessa insistência em nos levar até Flyn, nem como ela conseguiu convencer Verne.

— Ambas sabemos que Virnan sabe usar bem as palavras, tanto para ofender e causar discórdia, quanto para expor seu ponto de vista e convencer àqueles que se opõem a ele. Certamente, Lorde Verne não teve a menor chance, assim como não teria se travassem combate. Não está curiosa para saber se é verdade o que nos disse? — Cerrou os olhos ligeiramente.

A Ordem: O Círculo das ArmasWhere stories live. Discover now