Érion

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— Você devia ter aproveitado a oportunidade e destruído aquela maldita de uma vez por todas! — Érion esbravejou.

O dragão Zarif soltou uma lufada de fumaça pelas narinas. O ódio do mestre irradiava para ele, atingindo-o como uma onda tempestuosa. Rosnou em resposta:

Mesmo ferida daquele jeito, eu não teria a menor chance contra ela. Você limita minha magia quando estamos longe um do outro. Então, não diga coisas estúpidas, quando nem mesmo aquela sua Sombra de "estimação" conseguiu derrotá-la, apesar do desgaste mágico em que se encontrava.

Érion socou o braço do trono que ocupava ao mesmo tempo em que um trovão se fez ouvir, ao longe. Uma forte corrente de ar invadiu o ambiente e balançou as tapeçarias nas paredes. O cheiro de chuva se infiltrou nas narinas dele, recordando-o da vida passada, quando ainda era apenas um príncipe em Sulitar.

Sua raiva aumentou, enquanto atirava aquelas memórias para o esquecimento. Zarif emitiu um gemido baixo, incomodado com a tormenta de sentimentos negativos que lhe chegava.

— Sempre que a encontra, você retorna ainda mais rebelde. — Érion observou, se colocando de pé. — Tem razão, cometi um erro ao limitar seu poder e, assim, perdemos uma boa oportunidade de matá-la.

Deu alguns passos até parar diante do dragão.

— Mas me pergunto se você teria mesmo feito isso.

Semicerrou os olhos, esperando os sentimentos do dragão lhe chegarem. Recebeu uma grande quantidade de raiva, mas não saberia dizer se Zarif dedicava a ele ou a antiga senhora. Raramente tinha alguma certeza em relação ao spectu. Ao longo dos séculos, ele aprendeu a controlar suas emoções, mas às vezes se descuidava, como naquele momento.

Prosseguiu, cansado de tentar adivinhar a verdade:

— Se ela está mesmo desgastada e ferida, é certo que não pôde retornar a Flyn e deve ter ido se abrigar em Valesol. Neste caso, temos uma chance de acabar logo com isso.

Andou até a janela próxima, admirando a chuva fina que começava a cair sobre a cidadela. Zarif o seguiu, assumindo a forma humana.

— Você terá o coração e eu consumirei a alma dela. — Érion continuou, entortando os lábios em um sorriso cruel. — A alma de um Castir duplicará, talvez até triplique, o meu poder. E já não precisarei que uma guerra ocorra para captar almas poderosas para alimentar o meu amuleto e quebrar as barreiras que protegem Flyn. Além disso, se ela estiver morta, não haverá ninguém capaz de fazer aquele maldito círculo de armas.

A última observação ondulou no laço que o unia ao spectu e este sentiu o medo escondido entre o seu ódio. Zarif sorriu, desafiador e irônico.

— Você esquece que agora ela tem um Círculo e sabe o que você é.

Sangue escorreu de seus lábios, quando Érion girou o corpo para fitá-lo, enquanto seu punho ia de encontro ao rosto dele. O Cavaleiro envolveu o pescoço do spectu, reprimindo a magia dele para que não pudesse revidar.

— O destino pode ter dado a ela um grupo de castanes para formar um Círculo, mas isso de nada servirá se ela morrer.

Jogou o spectu contra a parede e retornou para o assento no centro do salão.

— Já enviei uma mensagem ao grupo que acompanhava Ilan, aquele estúpido e imprestável! — Soprou o ar, ainda mais irritado. — Você deve apenas observar e trazê-la para mim viva. Não importa que seja em pedaços, mas que esteja viva! Agora vá!

A Ordem: O Círculo das ArmasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora