Firense

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Um grito ecoou no ar, arrastando olhares assustados de vários ordenados. Melina interrompeu a caminhada e girou sobre os calcanhares. Inspirou fundo e com passos ligeiros foi até a jovem Irmã ordenada que gritou. A moça estava sendo amparada por um Mestre, enquanto tremia, fixando o vazio.

Muitas reações como aquela ocorreram por todo o caminho através da floresta petrificada e a Grã-mestra já não tinha mais paciência e sensibilidade para tratar o assunto com parcimônia. Ela pousou as mãos nos ombros da moça, fincando as unhas na carne magra dela até que uma expressão de dor deformou suas feições e a fez encará-la.

Melina estava prestes a falar coisas das quais se arrependeria assim que se calasse e, no momento em que entreabriu os lábios, a mão de Bórian alcançou seu braço. A grã-mestra travou o maxilar, fincando as unhas ainda mais na jovem, então esvaziou os pulmões antes de falar:

— Não sei o que você está vendo, mas não é real. — Segurou o rosto dela entre as mãos. — Mas se você continuar gritando assim, o medo e tantas outras emoções negativas dos seus companheiros irá aumentar. E isso fará o poder da floresta crescer e as visões se tornarão mais e mais realistas, até que todos estejam em pânico. Quando isso acontecer, os inimigos na Cidade dos Eleitos terão conhecimento da nossa presença e o seu pesadelo terá se tornado real. Então, inspire fundo e concentre-se!

Um instante longo se passou, até a moça balançar a cabeça, confirmando que havia entendido. Então, Melina a soltou. Ela olhou em volta, reparando no desconforto crescente entre os ordenados, cujo motivo não era a travessia da floresta e, sim, seus modos.

— Continuem andando! — Ordenou e retornou à dianteira do grupo.

Bórian a seguiu de perto.

Rude, mas eficiente. — Ele disse com um sorriso irônico.

— Não tenho tempo para ser condescendente. — Melina resmungou.

Não lhe incomodava a curiosidade dos ordenados em volta, que buscavam naquela inspeção apurada, encontrar a idosa que os comandava há décadas. Afinal, a grã-mestra que conheciam tinha um temperamento sereno, bem diferente da mulher rude que os guiava naquele momento.

Ela não se importava com o que eles pensavam, realmente. Pois, resolveu aceitar os conselhos de Tamar e aproveitar a juventude resgatada. Sendo assim, iria agir com a sabedoria que a idade lhe trouxe e com a impetuosidade da juventude.

Estamos quase lá. — Bórian informou.

Alguns passos atrás dele, Mestre Pitacus ergueu a face para o sol forte de quase meio-dia. Ele passou a manga da túnica azul marinho na testa em uma tentativa de diminuir a quantidade de suor que brotava nela e escorria para os olhos. Custava a ele, assim como ocorria a quase todos os ordenados presentes, aceitar o fato de que a Ordem marchava para uma batalha; não para auxiliar os feridos, mas sim como recurso bélico.

Era um disparate, ele pensava. Mas quanto mais odiosa a ideia lhe parecia, mais sensata também se tornava. Principalmente, quando recordava o ocorrido na Ilha Vitta, quase dez dias antes. Virnan e Melina se materializaram no meio do salão de refeições do castelo, atirando-os em uma realidade assustadora. E, assim, os preparativos foram feitos para que pudessem estar ali, naquele momento.

— O ideal seria que atacássemos à noite. — Observou Pitacus, mirando os ombros largos de Bórian.

O espírito lhe respondeu sobre o ombro:

Flyn não tem todo esse tempo. Quando saímos de lá, hoje cedo, duas barreiras haviam caído.

Senti quando a terceira barreira caiu pouco tempo depois que adentramos na floresta. — Melina informou. — Nesse ritmo, o exército do cavaleiro alcançará a última barreira ao pôr do sol.

A Ordem: O Círculo das ArmasWhere stories live. Discover now