Flyn

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*

O fim da tarde se aproximava quando saíram da floresta escura e fria. O pouco calor que o sol daquela hora lhes oferecia era um alento e sobraram suspiros prazerosos diante dele.

Não mudou muito. — Lyla observou, deslizando a vista pelo vale abaixo até parar sobre as ruínas escuras de Flyn, que não passavam de um ponto negro. Mesmo assim, estava surpresa por conseguir ver tão longe e com tanta perfeição.

Claramente, aquela união também lhe permitia usar alguns dos dons de Virnan que, ao seu lado, inspirou fundo sem ocultar uma careta para a ironia na voz dela. Inicialmente, a deminara os seguia pelo ar, deixando que a visualizassem vez ou outra. Quando se cansou da forma animal, pousou na sela de um dos cavalos dos soldados falecidos e assumiu a forma humana, permanecendo assim desde então.

Atraía os olhares dos companheiros de viagem, que estranhavam sua presença e não sabiam como se portar. Entretanto, ela aparentava não se importar e cavalgava, silenciosa, ao lado de Marie. Por sua vez, a mestra ainda não sabia o que pensar sobre o espírito. A conversa e "caminhada" da noite anterior, lhe permitiu conhecê-la um pouco, mas como tinha percebido rapidamente, Lyla era muito parecida com Virnan e igualmente misteriosa.

Quanto mais tempo passava ao seu lado, mais dúvidas lhe assaltavam. Queria poder lhe perguntar, de novo, se era mesmo a responsável por ter cruzado os destinos de todas as ordenadas, mas não podia falar ao lado dos companheiros sem que houvessem consequências e o spectu não entendia seus sinais. Então, resignou-se a prestar atenção ao caminho que seguiam, deixando o cansaço lhe chegar a face em alguns momentos.

A Castir soltou o ar, implorando paciência às forças da natureza, ciente de que começava a perder o controle sobre suas emoções diante da proximidade de seu antigo lar. Fez um movimento discreto, incentivando a montaria a ir adiante. Os sussurros da cidade se tornaram ainda mais audíveis, causando incômodo aos seus ouvidos sensíveis. Eram como uma canção que se repetia sem parar.

Fenris agitou-se sobre a sela, despejando o conteúdo do estômago no chão. Ao seu lado, Lorde Verne aparentava estar febril e, Távio, tão mareado quanto o cavaleiro.

— Estão doentes? — Tamar indagou, preocupada. Havia algum tempo, tinha percebido o desgaste físico dos homens, mas como nada disseram, não teceu comentários.

Virnan se voltou para eles, analisando-os. E concluiu com um dar de ombros:

— Não. Há uma forte magia em volta da cidade. Ela tenta nos repelir desde que decidimos vir para cá. Mas nós — fez um gesto para indicar que falava somente das mulheres — não sentimos seus efeitos como eles. E agora que estamos deixando as terras do Reino do Sul e adentrando nos domínios de Flyn, essa força crescerá. Não sei se perceberam, mas quando saímos da floresta, cruzamos a barreira de um círculo de proteção.

Sim, elas tinham percebido uma estranha mudança no ar, mas interpretaram isso como alívio por saírem um pouco da escuridão da floresta.

— É provável que cruzemos outros círculos, mais adiante. Certamente, eles guardam efeitos mais devastadores do que um mal-estar repentino.

Abriu a mão, direcionando-a para os três homens. Sussurrou algo ininteligível e três círculos surgiram no ar. Marie reconheceu a conjuração como sendo a mesma que ela usou em si mesma, na noite anterior. Cada círculo envolveu um midiano até desaparecer e ressurgir brilhante no braço ou pescoço deles.

— Isso vai protegê-los pelo resto do caminho.

O badir passou os dedos sobre a marca no pescoço, sentindo um leve formigamento. O mal-estar tinha lhe abandonado de imediato e endireitou-se sobre a sela, satisfeito.

A Ordem: O Círculo das ArmasWhere stories live. Discover now