1. Fase I - Sayonara

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Em 8 de julho de 1853, quatro navios americanos ancoraram na Baía de Edo (futura Tóquio) sem autorização. O comandante dessa expedição, Matthew C. Perry, trazia em seu bolso uma carta do presidente americano ao xogunato Tokugawa (líder do país), dando-lhe o prazo de 1 ano para que o Japão abrisse seus portos para o comércio exterior com a ameaça de que seriam invadidos acaso recusassem.

Ao notarem que o Estados Unidos era evidentemente mais avançado em termos tecnológicos, comerciais e armamentistas, o povo japonês – que há 700 anos vivia em um sistema feudal centrado no poder militar dos samurais e com suas fronteiras fechadas para o mundo – sentiu a fragilidade de seu próprio país e pressionou Tokugawa a aceitar o acordo.

Embora o xogunato tenha tomado uma iniciativa e até mesmo comprado armamento americano para fortalecer-se, os japoneses – em sua maioria, sulistas – não viam em Tokugawa um líder correto para guiar o país rumo à uma nova era e desejavam tirá-lo do poder.

Assim, ocorre uma guerra sangrenta entre Norte (elite samurai, defensora de Tokugawa) e Sul (defensores de um novo governo, apoiados pelos EUA), e embora os samurais fossem guerreiros lendários, suas espadas não tiveram qualquer chance contra as armas de fogo do Ocidente. Por isso, em 1867 é oficialmente declarada a vitória dos sulistas e a renúncia do xogunato.

Em 1868, Mutsuhito Meiji, de apenas 14 anos, assume o trono e é declarado o novo imperador do país. Em seus 45 anos de poder, o Japão passará de um feudo sob regime militar para uma das maiores potências econômicas do mundo.

Esta nova era de modernização, mudanças sociais, filosóficas e aberta ao mundo, é chamada de "Era Meiji".


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Satte, Província de Haruno – 5 de novembro de 1868

Ano 1 da Era Meiji


Sentada na varanda, Haruno Mebuki observou os criados recolherem as folhas avermelhadas do gramado do jardim.

Na mansão, os verões eram sempre tórridos e vagarosos, mosquitinhos sobrevoavam o campo, leques eram balançados para espantar o calor e uma preguiça interminável, acompanhada de uma chuva fina e insistente, se prolongava até o fim da estação. As primaveras eram encantadoras, crianças do clã vestiam kimonos bordados por suas mães, árvores de cerejeira floresciam e havia a colheita de frutos e flores ao entardecer. Os invernos, por sua vez, eram mórbidos e solitários, um silêncio assustador reinava na imensidão do vilarejo, a neve impedia a travessia das carruagens e uma escuridão assustadora parecia jamais desaparecer.

Mas havia algo sobre os outonos em Satte, sobretudo aquele, que despertava uma melancolia dentro de si. Como se assistir a natureza renovar-se por vontade própria intensificasse seu sentimento de incapacidade, despertando uma amarga compreensão de que o sol se esconderia atrás das montanhas para que a lua surgisse, novas folhas nasceriam nas copas daquelas árvores, crianças tornar-se-iam adultos, mas sua vida jazia petrificada no mesmo lugar.

Imutável como uma pintura.

Pois ela era – e sempre seria – apenas uma esposa.

A esposa feia demais. A esposa magra demais. A esposa baixa demais. A esposa bronzeada demais. A esposa com um quadril estreito demais para empurrar um menino forte e vigoroso. A esposa cujo ventre podre não conseguiu fazer vingar um filho, mas trouxera ao mundo duas meninas inúteis para a continuidade do clã.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now