48. Fase III - Shoganai

1.7K 140 552
                                    

Shoganai: palavra utilizada para dizer a alguém que certas circunstâncias estão além de seu controle, uma forma de impedir que a pessoa se prenda a situações que não podem ser alteradas para que assim consiga seguir em frente em sua vidas sem olhar para trás.

Nota inicial: eu sei o que vocês querem e eu vou apenas pedir para vocês segurarem minha mão e esperarem um pouquinho, inho, inho para isso acontecer. Quando rolar, vocês vão entender porque.

Lembrete: As referências visuais desse capítulo estão na pasta do pinterest nomeada "Cenários" e "Figurino de Haruno Sakura".

Boa leitura!


────── ──────



Tóquio, 14 de dezembro de 1877

Ano 10 da Era Meiji


Estação Shimbashi.

Inspirada nas magníficas estações de trem da Inglaterra, aquela era a epítome da modernização do Japão sob o glorioso império Meiji. Um símbolo, não somente de requinte e sofisticação, mas da evolução de um país que sete anos antes estava preso em um sistema precário de feudalismo e que, agora, trilhava a passos largos para tornar-se uma das maiores potências mundiais.

Suas duas majestosas torres foram erguidas em tijolos acinzentados, adornadas por grandiosas janelas arqueadas com molduras de ferro pintado em branco que possibilitavam a entrada direta de luz solar, fazendo resplandecer o piso de madeira encerado que encobria todo o saguão.

Sob o telhado projetado em madeira e ferro, uma multidão de pessoas aguardava a chegada da locomotiva, suas vozes animadas reverberando através das imensas colunas de tijolos que levavam em si as placas enumeradas de cada plataforma.

Localizados ao fundo da estação, passageiros da terceira classe com destino à Kyoto sequer conseguiam esconder a expectativa de viajar pela primeira vez, uma experiência que lhes custara um mês inteiro de trabalho. E, ainda que usassem suas melhores roupas para a ocasião, sequer comparavam-se à toda pompa e elegância da aristocracia, localizada no extremo oposto, propositalmente separados da classe comum.

Ali, damas sentavam-se nos bancos de madeira acompanhadas de criadas a carregarem suas pesadas malas de couro e estolas de pelo.

Trajadas em vestidos ocidentais decorados com fitas, tules, babados e cetim, elas sequer conseguiam se mover apropriadamente devido aos espartilhos vitorianos que sufocavam suas cinturas e projetavam os seios para cima. Um pouco mais adiante, estrangeiras de cabelos ondulados escondiam cochichos e risadinhas por trás de suas luvas de seda, zombando de suas consortes nipônicas que deixavam transparecer o desconforto ocasionado pelas barbatanas de ferro e das anáguas sob as saias volumosas.

Alheios àquele universo superficial de suas esposas e filhas – no qual, ironicamente, eles mesmos as aprisionavam –, políticos, diplomatas e ricos comerciantes engajavam-se em uma conversa sobre avanços tecnológicos e acordos políticos entre países. Aquela miscelânia de vozes era carregada de diferentes sotaques vindos de ambos os lados, por vezes tornando-se incompreensíveis, mas que não atrapalhou o clima formal e ameno a ponto de dissolvê-lo.

Era oito da manhã quando o som inconfundível da locomotiva a vapor soou na estação, abafando o burburinho de vozes dos viajantes. Quando reduziu a velocidade e estacionou na plataforma, a densa fumaça branca saiu pela chaminé, subindo até as grandes vigas de ferro no teto, pairando sobre as cabeças das centenas de pessoas aglomeradas em suas devidas plataformas. Uma a uma, as portas dos vagões foram abertas – da primeira à terceira classe, sucessivamente – e rapazes em terno bordô e pequenos chapéus surgiram para auxiliar com as malas e conferir os bilhetes na entrada.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang