38. Fase III - Ikigurushi

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Ikigurushi: opressivo, sufocante.
Boa leitura.




Sasuke-kun...

Olharam-se, esmeralda e obsidiana, apagando todas as sombras de incerteza que sempre pairaram sobre aquelas duas existências solitárias. Duas almas que, de alguma forma, sempre se encontravam. Um fio inquebrável do destino, tecido pelos deuses. Era a primeira vez em que não havia necessidade de ouvi-lo, a resposta transbordando de seus olhos: ele a amava, em mesma intensidade.

Com os lábios selados em um beijo cálido, deitaram-se nos lençóis de seda branca, os corpos despidos apertando-se um contra o outro a ponto de seus corações baterem em sincronia. Ausentes do desejo de vingança, do passado traumático e das obrigações dolorosas, enfim, tornaram-se um. Os cabelos espalhados na cama, mãos unidas sobre a almofada, a respiração pesada, vozes sussurradas docemente: um chamando pelo outro como se em uma garantia de que ali permaneceriam.

Entreabriu as pálpebras pesadas de desejo, enxergando a sombra do ronin mover-se devagar dentro dela, em brasas sobre seu corpo, amando-a e sendo amado em retorno. Amando tanto que a enchia de felicidade. Sorriu, radiante por tornar-se sua e tê-lo inteiramente para si, resvalando as costas dos dedos em seu rosto úmido, ausente de qualquer dor, nervosismo e incerteza que deveria tomá-la em sua primeira vez, não havendo nada além de uma felicidade plena e prazer.

Apenas sua, como sempre quisera ser.

Um dossel de marfim branco e cortinas de gaze os protegiam daquele outro mundo. Uma fronteira resplandecente, perolada, banhando-os de calor; um universo próprio intocado por tragédias, um domo feito de luz em meio a um jardim. Ali, o sol jamais adormecia, nem a sede ou a fome existiam, apenas uma eternidade onde nada e nenhum sentimento morria. "Onde poderemos ser felizes para sempre", pensou ela quando encostou a cabeça no pescoço dele, sentindo seu cheiro, suspirando de prazer contra sua pele enquanto o puxava para si, apertando suas costas com as mãos.

— Eu amo você — sussurrou em seu ouvido.

Poderia repetir aquela verdade incontestável mil vezes se assim fosse necessário, apenas para que ele compreendesse a intensidade de seus sentimentos. Não queria vê-lo partir outra vez, não queria que ele trilhasse por aquele caminho de escuridão, estando disposta a preenchê-lo de luz e afeto para curá-lo de toda sua dor. Mas ao ouvir a confissão, Sasuke riu em seu ouvido. Não um riso de felicidade ou contentamento. Admiração ou afeto. Um sarcástico e impiedoso. Um que não deveria partir dele. Não após... Tanto.

— E depois que eu te jogar fora? — perguntou em retorno — Ainda vai me amar?

A pergunta, proferida de forma tão cruel, fizera seu coração parar de bater. Virou o rosto para olhá-lo e encontrou não o homem apaixonado de outrora, mas um que a olhava cheio de desprezo. Uma alma ausente: de amor, de afeto, de laços. Apertou as sobrancelhas, confusa com a mudança abrupta em seu comportamento, as lágrimas se acumulando na linha dos olhos.

Tocou em seu peito para empurrá-lo para longe, ferida demais para permanecer abaixo dele, mas Sasuke não deixou, a mão subindo por seu corpo nu até chegar ao pescoço, onde a apertou. Apertou tanto que a pele macia saltou entre os dedos ásperos. Apertou para que ela não ousasse fugir. Apertou para que ela entendesse de uma vez por todas:

Ele nunca a amaria.

O domo de luz se apagou como uma vela, as cortinas se dissolveram em cinzas, o dossel trincou até desmoronar no chão abaixo, o jardim ao redor apodreceu. Enquanto lutava para escapar, debatendo o corpo abaixo do dele, arranhando seu braço, o rosto, o tronco, encarando os olhos vazios presos em si, sentiu o lençol umedecer, um cheiro adocicado, pútrido, pungente e horrendo entrando por suas narinas.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now