Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)

46. Fase III - Kogarashi

Kogarashi: a palavra japonesa para descrever uma brisa gélida que sopra antes da chegada do inverno. O simbolismo do inverno é o da morte (não literal) antes do florescer/ renascer da primavera. Sendo assim, o título foi escolhido para representar esse importante capítulo de transição na vida da Sakura e a proximidade com a fase IV. 

Nota inicial: sei que muitas pessoas acabaram pulando/ignorando o capítulo do Orochimaru por odiar o personagem e essa vai ser, definitivamente, a última vez que toco nesse assunto. Itachi e Orochimaru são tão importantes para o desenrolar da trama quanto a Sakura e o Sasuke, então odiando ou não, eles são os que fizeram tudo chegar até aqui e é sobre isso que se trata os capítulos de flashback. Se vocês pulam os capítulos dele, vão ficar sem entender MUITA coisa (inclusive esse) e isso só vai piorar.
Pronto, fim do surto, a escolha tá na mão do leitor. Limpo as minhas.

Lembrete: notas finais para curiosidades históricas e as referências visuais estão no pinterest (link na minha bio), nas pastas: figurino Haruno Sakura, Palácio Imperial e Personagens Secundários.

ps: estou tendo problemas para responder e visualizar alguns comentários por um bug no wattpad, então perdoem minha demora! prometo que vou dar atenção para cada um.

Boa leitura!

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Tóquio, Palácio Imperial – 27 de novembro de 1877

Ano 10 da Era Meiji

Havia algo sobre o frio que deixava as pessoas mais inquietas.

Notara pela maneira como as damas da corte apertavam as golas forradas de pele de coelho e urso de seus casacos e manifestavam suas insatisfações para as criadas que acompanhavam-nas, como se fossem dotadas de uma milagrosa capacidade que não se delimitava somente a cumprir suas vontades mais supérfluas mas também pudessem mudar o tempo.

Igualmente estavam os senhores enterrados em grossos paletós e chapéus, seus vastos bigodes encobriam-lhe os lábios, mas não ocultavam suas palavras impacientes e os semblantes rígidos de preocupação. Em grupos de três ou quatro, apressavam os passos nos pátios de pedra e traziam consigo um conjunto de papeladas e pastas de couros, atravessando as muralhas entre pavilhões com tamanha pressa que sequer notavam a presença de outros.

A rotina do palácio, certamente, era tão oposta ao clima alegre do festival, em que nem mesmo a chuva fora capaz de arrefecer os ânimos da corte.

Era um dia muito cinzento e escuro, como todos os outros que marcavam a transição do outono para o inverno. Naquela última semana, o céu estivera inteiramente coberto por densas nuvens que impediam o surgir do sol, trazendo consigo somente chuviscos e ventanias que prenunciavam as intensas temporadas de neve.

E então – pensou ela – como ficariam aquelas mulheres entediadas? Trancar-se-iam em seus quartos até o surgir da primavera? Naquele ponto, Sakura quase sentia-se a mais afortunada de todas as criaturas, sempre atarefada demais para compreender qual era o sentimento de não ter nada para fazer a ponto de irritar-se com sua própria inércia.

Com o rosto apoiado nas mãos e a cabeça encostada no vidro, ela observou a paisagem enublada da grandiosa janela da Sala de Conferências no quinto pavilhão. Gotículas de chuva deslizavam pela vidraça e uma brisa gélida embrenhava-se através das molduras de carvalho esculpido, tocando em sua nuca e fazendo balançar os fios de seus cabelos.