41. Fase III - ...kuiaratemasu

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... kuiaratemasu: "... e arrependa-se".
Complemento do título do último capítulo: "faça um pedido..."
Crédito de tradução do título: Gabrielle Torraca.

Leiam as notas finais para curiosidades sobre o capítulo e não se esqueçam que as referênciais visuais de cenário encontra-se no Pinterest na minha bio do wattpad.


Boa leitura!


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Tóquio, Distrito de Ginza – 14 de novembro de 1877

Ano 10 da Era Meiji



A primeira parte de seu trajeto fora composta de reflexões angustiantes que não deveriam incomodá-la, embora não pudesse realmente controlar suas emoções, visto que todo seu empenho para fazê-lo estava focado naquele aspecto secreto de seu coração, aquele cujo nome não deveria mais ser pronunciado.

Mas assim que a carruagem adentrou ao distrito de Ginza, sua natureza curiosa sobrepujou aquela tristeza e a fez afastar as cortinas de veludo que encobriam a janela para observar a moderna paisagem que desenrolava-se do outro lado do vidro.

Conhecido por seu extravagante estilo arquitetônico, mais especificamente: por suas construções que remetiam à Inglaterra vitoriana, Ginza era um dos maiores símbolos da modernização do Japão. Cinco anos antes, um terrível incêndio havia devastado grande parte dos pequenos comércios e casas que ali existiam; e o Imperador, aproveitando-se da oportunidade, ordenou sua reconstrução a fim de erguer grandiosos edifícios de múltiplos andares e casas coloniais à moda europeia.

A sofisticada união entre ocidente e oriente afastou os estrangeiros interessados em vivenciar as tradições japonesas, apaixonados pelas casas de madeira com tatames macios, decoração minimalista e painéis pintados, querendo manter-se o mais distante quanto fosse possível de tudo que pudesse remetê-los à sua terra natal.

Como eles, os conservadores que repudiavam a abertura do país para o mundo, jamais colocavam os pés ali senão para amaldiçoar, secretamente, seu Soberano por uma decisão tão desrespeitosa. A mudança, entretanto, atraiu a elite do país – sobretudo os membros da corte – que caíra nas graças dos costumes europeus e almejava comprar casas exageradamente decoradas e adaptar-se àquele novo estilo de vida.

Após sua reconstrução, o Yomiuri Shimbun publicou as palavras de um escritor americano ao visitar a nova Ginza. Em sua opinião, o bairro era: "menos oriental que os subúrbios de Chicago e Melbourne", uma observação que, anos antes, seria compreendida como uma extrema ofensa, mas que ao Imperador tornou-se um motivo de orgulho e status da evolução econômica e tecnológica do país.

Desta forma, aquele lugar passou de um simples bairro cheio de casinhas e lojinhas datadas do período Edo para uma vitrine da sofisticação da elite, repleto de prédios governamentais, editoras de jornais, boutiques, joalherias, restaurantes sofisticados, farmácias e alfaiatarias. Acaso as senhoras mais sofisticadas do país quisessem estar alinhadas com a moda francesa ou os senhores com as novas invenções inglesas, era ali que deveriam procurar.

Mesmo durante à noite, quando tudo encontrava-se fechado, era possível notar o quão extraordinário era a vida ali. Por todo lado, se era possível encontrar altas edificações construídas em tijolos pintados de branco e amarelo, torres de relógio e sacadas ornamentadas com parapeitos de cimento e flore. Nas ruas largas, bondes elétricos de laca preta e vermelha deslizavam pelos trilhos e dividiam espaço com jinrikisha e nobres carruagens puxadas por dois ou quatro cavalos.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now