26. Fase II - Koigokoro

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Nota da autora: esse capítulo contém cenas de ~putariadevirgem ~ e é recomendada para todos os leitores de Kurushimi, porque a partir daqui só vai ficar o leitor que gostar de desgraça, palavrão, sujeira, sexo e violência. 

Koigokoro: Despertar do amor, a compreensão do ato de amar.

Boa leitura! 


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Fique.

Sua vulnerabilidade o deixara irracional.

Egocêntrico, sequer ponderou as consequências se ela ficasse. O sol, sempre fugidio, não deixaria de esconder-se atrás das montanhas e a lua continuaria a reinar nos céus ao anoitecer. Ambos os mundos – o dela, tão frágil e o dele, tão violento – ainda cobrariam o preço por seus atos e nada, enfim, mudaria ante à sua vontade.

Consciente de que sua permanência seria impossível, quis ao menos dar-se ao direito de usufruir de sua aproximação. Afastou os dedos quase entrelaçados aos dela, deslizando-os pelo dorso de sua mão a fim de envolvê-la, achando que jamais deixaria de se surpreender de como a dela era pequena e delicada em comparação à sua, áspera e tomada de calos devido aos anos manuseando espadas.

Jamais estivera tão ciente da distinção entre eles quanto naquele momento, parecendo-lhe o mais odioso dos crimes tocar em um ser tão gentil com a mesma mão que assassinava e desmembrava sem remorsos. Aceitara que nunca seria digno de tê-la e que sua mera presença a degradava, sendo ele o responsável por arrastá-la àquele mundo nefasto de violência e contaminá-la com sua podridão.

Uma lágrima tornou a despencar do rosto dela e, sem saber como reagir para acalmá-la, pôs-se a sondá-la. Uma amálgama de remorso e compaixão inflamou dentro de si, afligindo o orgulho que sempre fora tão inabalável. Acaso não houvesse falhado em combate, ela não teria que lamentar por seus patéticos ferimentos, tampouco seria obrigada a enfrentar o Murata sozinha.

— Me perdoe, Sasuke-kun — pediu novamente — Eu, apenas... Sinto tanto.

Não havia por que sentir-se tão culpada. Até onde compreendia a dimensão de seus sentimentos por ela, desconfiava – para sua completa infelicidade – que continuaria a agir instintivamente para protegê-la sem jamais sentir-se arrependido ou amargurado por tê-lo feito.

— Chega, Sakura — seu pedido soara com uma ordem grosseira.

Ah, seu pragmatismo era incompatível às necessidades emocionais de Sakura naquele momento. Tão oposta à sua maneira austera e mal-humorada de lidar com a vida, a transparência dela muito o intrigava, sobretudo a facilidade na qual conseguia rir e chorar de uma hora para outra, sem qualquer pudor.

Por que era sempre tão complexo para ele lidar com uma situação que deveria ser relativamente simples? Qualquer outro em seu lugar saberia como fazê-lo; até mesmo Kenzo, com toda a imbecilidade que lhe cabia, seria mais capacitado para aquilo. Não deveria saber, ao menos, como acalentar a única pessoa que usufruía dos benefícios de ser amada por ele?

Comparado a todas as vezes em que quase fora decapitado, desmembrado, queimado, perfurado, envenenado e morto por Sho em seus árduos treinamentos de combate e sobrevivência, ter um ombro costurado e dedos feridos não era nada além de um ínfimo estorvo.

Algo que, àquela altura, sequer o incomodava.

Era ridículo que se preocupasse com seu bem-estar, quando era a própria Sakura – inexperiente aos perigos do mundo – a merecedora de zelo e afeto. Mas ao contrário dela, não saberia como colocar sua preocupação em palavras, preferindo sempre agir a expressar-se, embora desconfiasse que, fazendo jus à sua complexidade, ela continuaria a lamentar-se a menos que não fosse absolutamente claro em seu propósito.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now