34. Fase II - Akimatsuri III

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Nota: Lembre-se, o nome da história é "Kurushimi" (tradução: sofrimento). 
Leiam as notas finais, por favor.

Boa leitura.



Fique comigo essa noite, Sasuke-kun.

O pedido de Sakura fora apenas uma comprovação de sua desconfiança: a natureza havia arquitetado cada mínimo detalhe de sua figura para submetê-lo a seus encantos sem direito de defesa. Junto àquele clamor sussurrado, a bruma perfumada o envolveu e a sensação dos seios contra sua pele, a respiração quente em seu pescoço e o afeto dirigido a ele o deram uma espantosa compreensão de que possuía a única preciosidade de sua vida miserável nos braços, comprimindo-a tanto em si como se uma voz em seu âmago lhe avisasse que seria sua última chance de fazê-lo.

Dentro dele, não encontrara qualquer fagulha de forças para negar-lhe. No fundo, sua maior vontade era a de atender a cada um de seus caprichos, mas sobretudo aquele, tão simples e gentil. Traiçoeiro, o próprio corpo o induziu a um estado de relaxamento absoluto, como se aceitasse que aquele era seu lugar de direito, as mãos se movendo na linha delicada de suas costas, acompanhando o desenho da cintura, a bochecha deitada sobre o rosto dela, compartilhando de seu calor.

Gostaria de poder obedecer às vontades do homem comum que constituía uma parcela de si mesmo, mas naquela disputa de interesses, o vingador seria sempre vitorioso. Aceitava sua sina, mas agarrava-se à existência de Sakura sem jamais querer soltá-la. Oh, haveria um paradoxo mais cruel que esse?

Como poderia dizer-lhe que não poderia ficar? Não naquele momento. Talvez, nunca. Não da forma como ela merecia.

Mas como se, em tão pouco tempo, Sakura houvesse aprendido a distinguir seus padrões de comportamento, ele sequer precisou refletir sobre a melhor forma de informá-la de sua decisão, pois ela decifrara a resposta amarga em seu silêncio, encolhendo os ombros ao compreender que ele não pretendia permanecer. E ao baixar os olhos, Sasuke encontrou o par de olhos cor-de-oliva encarando-o em retorno, marejados.

— Por que não?

Sasuke engoliu a seco, ponderando suas palavras, não querendo que a umidade em seus olhos se desencadeassem em lágrimas.

— Eu... Preciso voltar.

Embora seu esforço fosse admirável para alguém tão expressiva, a tentativa de Sakura em manter-se indiferente fora completamente em vão, pois o ronin pôde notar a forma como pressionou o canto dos lábios e desviou o olhar um pouco mais abaixo, na altura de seu queixo, tentando escapar de sua observação minuciosa, certamente magoada com sua resposta.

— ... Certo.

Mergulharam em um silêncio desconfortável, sufocante, que não deveria ocorrer após tudo o que havia ocorrido dentro daquele quarto. E Sasuke compreendia que era sua culpa, pois jamais soubera explicar-se de uma forma apropriada que não terminasse machucando-a. Talvez, se Itachi não o houvesse destruído de tantas formas possíveis, saberia como confortá-la e dizer-lhe: "eu sinto muito, Sakura, mas eu queria mesmo poder ficar".

Tudo seria mais fácil se ela apenas pudesse entender o quão difícil seria para ele se levantar e ir embora, sempre dividido entre permanecer ao seu lado e trilhar o caminho da vingança, sabendo bem que jamais ficaria satisfeito em escolher apenas um e muito menos poderia ter ambos. Sua maneira de tentar expressar tudo o que sentia naquele momento foi apertá-la um pouco mais e inclinar o rosto em uma pretensão de beijá-la, mas Sakura suspirou profundamente e afastou a face para mirar sobre seus ombros.

— Sasuke-kun... Posso lhe fazer uma pergunta?

O ronin assentiu, silencioso.

Isso é tudo o que irá acontecer entre nós dois, não é? — Apertou os lábios. — Ficar sozinhos por um momento e então nos separarmos — completou, rouca — Nós nunca... Vamos ficar juntos. Não de verdade, certo?

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now