15. Fase II - Hana wa saku

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Notas da autora: Você encontra o significado das palavras marcadas com asterisco (*), assim como de todos os sufixos usados (ex: -dono, -sama) em Glossário & Honoríficos.

Hana wa saku: Flores desabrocharão

Para curiosidade histórica sobre o capítulo, leiam as notas finais.

Boa leitura! Obrigada pelo carinho.


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Tóquio, Lótus Celeste – 23 de dezembro de 1876

Ano 9 da Era Meiji


No inverno, todo o hanamachi encheu-se de uma beleza melancólica.

As cores vibrantes das lilases, tulipas e orquídeas, que pintalgavam os jardins sinuosos, ocultavam-se sob as finas camadas de neve que, como um lençol branco, também encobrira as ruas de terra e as telhas envernizadas das majestosas casas de madeira que estendiam-se até onde a vista alcançava.

Naquela tarde, flocos delicados despencavam das nuvens e ondulavam na atmosfera, dançando ao toque de uma brisa suave e gélida, tão típica da estação. Agarravam-se, sobretudo, aos galhos secos das árvores nuas, que no outono enchiam-se de folhagens secas e douradas, mas que no ápice do verão tornavam-se jovens e macias, com múltiplos tons de verde.

Igualmente, acumularam-se nas dezenas de sombrinhas de seda matizada, erguidas acima das cabeças das elegantes gueixas do mundo da flor e do salgueiro. Preocupadas em protegerem seus coques ornamentados e os kimonos com golas quentes de pele de coelho, não ousavam expor-se ao tempo e como se flutuassem acima da neve, aquelas mantinham a compostura impecável sob a tempestade, preenchendo as ruas com uma inquestionável graciosidade e beleza, elevando-se acima das mulheres comuns que residiam além dos muros dourados.

Mas nenhuma se comparava a ela.

Em meio à paisagem pálida, sua figura era a materialização da própria primavera. Quando ela atravessou a rua principal, resguardada sob sua wagasa*, todos se viraram para olhá-la como se, de uma forma sobrenatural, sua mera presença reproduzisse um magnetismo que os obrigasse a fazê-lo. Em seguida, suspiravam, parecendo ter o poder de dissipar o frio e a taciturnidade intrínseca ao inverno.

Seu rosto branco era como mármore, cujos contornos perfeitos foram esculpidos pelo mais hábil dos artesãos, exceto por seus lábios, macios demais para fazer parte da escultura primorosa, naturalmente vermelhos e suculentos como cerejas frescas. Os olhos, duas valiosas esmeraldas emolduradas por seus cabelos róseos como as pétalas de uma cerejeira, farfalhando abaixo da cintura, difundindo um brilho irreal. Com ela, trouxera também uma fragrância única de flores e mel que pareciam apenas intensificar sua própria doçura.

Em sua passagem, reconheceu rostos familiares sempre presentes naquela região: donas de casas de chá, okaa-san de outros okiya e meninas de sua idade. Cumprimentou-as com um sorriso gentil e fora retribuída de mesma forma, embora soubesse que aquelas mulheres somente o faziam por ser a herdeira de Lótus Celeste, não por simpatia à sua presença. "De forma alguma", pensou, sabendo que no fundo torciam para que caísse e quebrasse o pé no caminho.

— Sakura-san. – A dona de um okiya aliado acenou para cumprimentá-la, fazendo menção de aproximar-se. Observadora, a menina interrompeu o passo e fez uma mesura educada para ela. – Isso é o que estou pensando? – Apontou para sua mão. – Oh, me parece que foi ontem que era apenas uma menininha acompanhada de Hinata-san. – Sorriu, nostálgica. – Olhe só para você agora! Diga-me, quantos anos fez mesmo?

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now