35. Fase II - Akimatsuri IV

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Nota: Esse é o último capítulo da Fase II. Ele vai se passar em duas linhas de tempo diferentes: a de Sasuke é entre a madrugada e o amanhecer, a de Sakura é entre a manhã e o entardecer, atentem-se aos horários para não se perderem, ok?


Leiam as notas finais e, como diria a Adelle: we're rolling in the deep.

Boa leitura.



Tóquio — 21 de setembro de 1877

Ano 10 da Era Meiji


Às duas horas da manhã do vigésimo primeiro dia de setembro, Uchiha Sasuke colocou-se ao lado esquerdo do wakagashira.

Uma madrugada gélida sucedia-se na capital. Nuvens densas encobriam o céu, impedindo que a luz prateada das estrelas reluzisse; uma chuva grossa, acompanhada de trovões e ventos fortes, se iniciara há pouco. As gotas despencavam sobre as telhas dos bordéis e casas de chá, escorrendo pelas paredes dos becos fétidos e escoando pelas ruas de terra batida.

Parecendo prever o conflito que aconteceria a qualquer momento, Yoshiwara – pela primeira vez desde sua fundação – estava toldada por um silêncio absoluto. Nada, além do som da tempestade, preenchia aquele espaço deserto acimado de luzes vermelhas; como se o bairro proibido houvesse adquirido vida própria, prendendo o fôlego e rogando aos deuses que o sangue não contaminasse sua carne.

Organizados nas entradas dos becos, portões e no pátio diante do quartel, os homens da ninkyō dantai aguardavam. Uma lividez anormal dominava seus semblantes bronzeados, sentindo a sombra da morte pairando sobre suas cabeças. E enquanto os membros mais velhos preocupavam-se com a possibilidade de partirem e deixarem suas famílias para trás, os mais jovens irradiavam a animação de, enfim, participarem de uma batalha.

Díspar a seus aliados – se assim poderia chamá-los – o ronin não temia ou almejava aquele conflito, sendo indiferente à possibilidade dele. E embora, de fato, desejasse exterminar a vida do líder Murata com as próprias mãos, tentou esvaziar a mente daquele ódio pré-estabelecido, não deixando que isso influenciasse seu comportamento. Pois Sho lhe ensinara que um guerreiro ausentava-se de suas próprias emoções durante um combate e, a julgar seu fracasso na luta contra os oito ao preocupar-se com a vida de Sakura, não tornaria a repetir aquele erro.

Com os braços cruzados e as costas apoiadas na parede, Sasuke ergueu os olhos quando a porta da sala do oyabun moveu-se para o lado. Ao seu lado, Kenzo se mexeu um pouco, inquieto, o polegar resvalando o cabo da wakizashi sob o haori por instinto. Precavido da impulsividade dos dois rapazes, Ichi virou-se para olhá-los e não fora preciso dizer absolutamente nada para que ambos compreendessem o que sua expressão significava: "não se atrevam a ser imprudentes". E enquanto Kenzo assentiu ao comando silencioso, o ronin deu de ombros, não precisando que lhe ordenassem como deveria agir naquele tipo de situação.

Mas fora preciso muito esforço de sua parte para não deixar transparecer o desgosto que sentiu ao pousar os olhos em Murata Susumo, o oyabun da família rival. Ao contrário de Fumihiro – um velho decrépito à beira da morte –, ele era um homem em seus quarenta anos, tinha cabelos escuros cortados à altura do queixo, olhos castanhos, um sorriso arrogante nos lábios finos e uma barba curta.

Acompanhado de outros três, o Murata se aproximou da mesa e curvou-se educadamente para Ichi e o saiko-komon ao seu lado. Antes de sentar-se diante dela, desviou o olhar para o ronin e ergueu as sobrancelhas, cheio de desdém, como se o conhecesse ou, como era de se presumir, reconhecesse nele a linhagem que tanto odiava.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now