25. Fase II - Kishi Kaisei

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Nota: Kishi Kaisei - retornar das cinzas/retornar da morte, provérbio utilizado para impulsionar alguém a agir em uma situação dificil após ficar tanto tempo em inércia.


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Não pôde deixar de sentir remorso.

Uma parcela da culpa era de sua própria inexperiência; tão acostumada – e incentivada – a ser uma protagonista do mundo dos homens, só pôde compreender a totalidade da ameaça quando era tarde demais, previamente encarando-os como mais um grupo a admirá-la, embora isso tampouco fosse agradável a vivenciar.

Se fosse treinada para identificar os perigos que alastravam o mundo real, não teria colocado sua própria vida, ou a do ronin, em perigo. Estranhamente, Sasuke jamais culpou sua ingenuidade, mas lançou-se à sua frente para protegê-la, como se acaso fosse digna de sua consideração e não somente uma mera contratante de seus estimados serviços.

Era incapaz de compreendê-lo, pois parecia constantemente contrariado com a sua presença e era o único a ajudá-la ao primeiro sinal de perigo. Era igualmente ignorante quanto a si mesma, indagando-se o porquê se sentia tão liberta e agitada ao lado dele – uma emoção díspar ao sufocamento do mundo das gueixas.

Além da culpa, sentia-se tão envergonhada por ter agido imaturamente quando o encontrou naquele restaurante. Sim, ele não cumprira sua promessa de encontrá-la e a deixou esperando por tantos dias nos portões de Yoshiwara, mas ela sequer cogitara a possibilidade de algo ter acontecido a ele, colocando-se, mais uma vez, no centro do mundo, como estava acostumada.

Oh, sentia-se terrível!

— Obrigada... — murmurou, baixinho — Por tudo.

Ele merecia um gesto mais profundo de sua gratidão, mas desconhecia como fazê-lo. Jamais sentira-se tão zelada por outra pessoa, seu cuidado comparável somente aos da própria mãe, que morrera para proteger a vida de suas filhas. Um dia, esperava que soubesse como dizê-lo, mas agora a pequena cortesia parecia adequada, ao menos, enquanto tentava desvendar a dimensão daquele estranho vínculo que se formava entre eles.

No entanto, Sasuke sequer a escutou, interrompendo seus passos para fitar o horizonte. Acompanhou seu olhar e encontrou cinco homens uniformizados aguardando-os na ponte que dividia os limites da metrópole e do campo.

O ronin esticou o braço para colocar-se à sua frente e, em reação, ela apertou a roupa dele entre os dedos da mão esquerda, encolhendo-se de medo e culpa. Tanta culpa. O gesto fizera o haori deslizar de sua cabeça e despencar no chão, expondo os cabelos aos pingos de chuva que gradativamente aumentavam.

Notou quando Sasuke sacou a wakizashi escondida sob a camisa e colocou-se um pouco mais a frente como se para escondê-la, conseguindo espiar a situação somente pela lateral do braço dele, perguntando-se como o grupo chegara ali tão rápido. Mas, quando um deles tomou a frente e se aproximou, notou que a única semelhança entre aqueles homens e o quarteto de Yoshiwara era o haori caracterizado.

Sua fisionomia, porém, era completamente diferente.

O homem que tomara a dianteira se distinguia entre os demais, sendo mais velho, com cabelos castanhos e rebeldes presos em um coque frouxo, a pele muito bronzeada e marcada por cicatrizes, olhos grandes e escuros, e uma barba cheia. Os outros quatro eram tão jovens quanto o ronin, embora não usufruíssem da mesma postura imponente que ele agora sustentava.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now