12. Fase I - Shiawase

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Notas da autora:  


Shiawase: Afortunado, boa-sorte, felicidade

- Acesse o link da pasta de Kurushimi no pinterest para ver as referências visuais deste e de outros capítulos na minha bio do wattpad. Lá, há várias fotos para ajudar na visualização dos personagens, cenários e objetos mencionados em cada capítulo.

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- Leiam as notas finais para curiosidades.


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Tóquio, Distrito de Yoshiwara – 13 de agosto de 1872

Ano 5 da Era Meiji


Olhos fixaram-se um no outro.

Os dele, enigmáticos.

Os dela, cheios de expectativa.

Com os lábios entreabertos, Chiyo não conseguia pronunciar outra palavra. O medo aflorava dentro de si, os pulmões clamavam por oxigênio e o coração, descompassado e inquieto, roubava-lhe o restante do fôlego que, àquela altura, estava prestes a desaparecer. E apesar de todo medo e desespero, continuava ereta em seu lugar, o queixo inclinado, as mãos pousadas sobre o volume do ventre, instintivamente.

Ao notar como a cortesã se apegava a aquele inchaço sob as vestes, o rapaz desviou o olhar, sentindo um desgostoso calafrio percorrer sua coluna. Respirou fundo, sentindo-se um tanto sufocado naquele quarto de cores fortes e fragrâncias extravagantes, uma nuvem de incenso apimentado pairava sobre ambos e queimava os pelos de seu nariz.

— Como sei que é meu? – questionou, sem olhá-la – Não é como se você fosse uma virgem antes de mim.

— É seu filho – afirmou, veemente – Não deixei nenhum outro fazer o que você fez comigo, caso tenha se esquecido.

As narinas de Hiroshi se dilataram de nervosismo e precisou engolir sua própria saliva para lubrificar a garganta seca de tensão.

E se fosse mesmo a sua criança dentro daquele ventre, o que deveria ele fazer? Eram as mulheres que deveriam ser responsáveis pelo que ocorria com seus próprios corpos, prevenindo-se de uma possível gravidez ou interrompendo-a caso fosse necessário. Se aquilo estava ali, não era culpa dele.

— E o que espera que eu faça? Me case com você?

Ao dizer aquilo, virou-se para encará-la.

Despida de seus trajes deslumbrantes e da pintura de cortesã, Chiyo era quase desagradável ao olhar. Sua pele era bronzeada, escura demais para ser considerada uma mulher bonita e graciosa, seus olhos eram tão miúdos e lhe davam um aspecto sonolento, os cabelos tão finos que as orelhas surgiam entre os fios e destacavam-se na coloração castanha-escura. Ah, certamente estava embriagado ao escolher retornar para sua cama tantas vezes seguidas.

Hiroshi aguardou as lágrimas que certamente surgiriam nos olhos escuros da cortesã. Havia passado tempo suficiente em sua companhia para saber que, sob aquela postura forte e endurecida, residia uma menina sensível e cheia de sonhos que se deixava levar por suas próprias emoções facilmente. Mas, para sua surpresa, Chiyo sequer demonstrou estar abalada com a forma com que ele recebeu a notícia, de repente parecendo mais madura e mais mulher do que nunca.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now