44. Fase III - Ame futte ji katamaru

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Ame futte ji katamaru: "Após a chuva, o chão de terra endurece", ditado popular que refere-se ao amadurecimento/fortalecimento de uma pessoa após passar por dificuldades.

Nota: Esse capítulo terá algumas citações do capítulo 23, denominado de "Kamau" em que Sasuke e Sakura treinam pela segunda vez e quase se beijam, e que não existia originalmente no spirit. Caso você não tenha lido e não queira ler, isso não irá alterar sua experiência de leitura.
Igualmente, no capítulo da Hinata (14 - Bachiatari), acabei escolhendo mostrar que a Oima era muito ligada nela quando era pequenininha e acabou sendo uma das prejudicadas por seu comportamento (por isso a raiva dela). Se quiserem voltar para ler essa primeira parte, fiquem à vontade.

Obrigada a todos que estão comentando e votando (essa estrelinha que fica ao lado dos comentários funciona como um "curtir")  porque é muito importante para eu saber sua opinião e ajudar na divulgação da história no site  ❤ 

Boa leitura!


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Tóquio, Lótus Celeste – 15 de novembro de 1877

Ano 10 da Era Meiji


Ao seu redor, a multiplicidade de sombras acresceu.

Mulheres vestidas de branco, os longos cabelos soprando ao vento, seus corpos curvilíneos tremiam devido ao frio e ao suave chuvisco, um resquício da tempestade da noite anterior. Abraçadas em suas saias, pequenas aprendizes ainda tinham bochechas coradas e olhinhos sonolentos de um sono abruptamente interrompido, observando com curiosidade a mulher de cabelos róseos de pé em meio ao jardim.

"Por que ela está lá, onee-san?", cochicharam em curiosidade, mas suas irmãs não souberam responder, igualmente assustadas e curiosas com a cena anormal. Pois a herdeira jamais foi castigada ou submetida aos tratamentos cruéis da matriarca. Talvez sofresse de mais cobranças e expectativas, mas isso jazia puramente no plano psicológico, nunca o físico.

Após tantas horas de punição, Sakura não sentia mais as pedras pontiagudas sob seus pés descalços, apenas um intenso formigamento que subia por suas pernas como dedos gélidos e invisíveis, sequestrando-a de qualquer sensibilidade. Àquela altura, a dor, o frio e o cansaço eram apenas um, batalhando inutilmente por um protagonismo jamais conquistado.

Meses atrás, teria se desculpado. Meses atrás, sequer cometeria um desacato tão absurdo. Meses atrás, teria apenas lamentado por tantas injustiças. Mas aquela Sakura há muito havia morrido, enterrada no cemitério de seu coração, junto de sua inocência e do cálido amor rejeitado.

Em seu lugar, outra surgia.

Como uma fênix que vagarosamente retorna das cinzas, pedaço a pedaço até que esteja completa. Essa, entretanto, nascia nutrida de decepção, arrependimento e tristeza. Oh, e por ironia: com mais determinação e maturidade que jamais tivera. Quiçá, sempre fora necessário uma força externa para assassinar a menininha inocente e resguardada de todo mal para que a mulher dentro de si enfim ganhasse vida. E ela não soubera disso, até então.

Ergueu os olhos para o céu, notando os primeiros raios de sol irromperem na imensidão cheia de nuvens cinzentas. Gotículas minúsculas caíram em sua face, escorrendo pelas maçãs de seu rosto, lábios e pescoço, unindo-se ao kimono ensopado que reduzira sua temperatura a tantos graus abaixo do natural.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now