50. Fase III - Osorenai

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Osorenai: ausência de medo.

Nota inicial: Olá, meus amores. Eu avisei na nota passada sobre o que aconteceria nesse, então vamos lá, será um pouco desagradável (para alguns), mas leiam até o final, respirem fundo, vai valer a pena depois. Em 2 capítulos eu compenso vocês por todo sofrimento, beleza? Confia na mãe, crie coragem, bora.

Boa leitura.

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A coragem era um inimigo da racionalidade.

Em outras circunstâncias, teria analisado uma centena de vezes como se portar diante naquela situação, pois era, sim, cheia de impulsividade e rebeldia quando levada aos seus limites, mas fora criada para conter aquele lado de si mesma e suportar adversidades com a graciosidade digna de seu status de herdeira. Entretanto, dotada de uma autoconfiança que elevou seu espírito ao grau da intocabilidade, atravessou aquele mar de roupas de gala e perfumes, sequer refletindo sobre as consequências de entrar naquela roda de homens e ousar apresentar-se.

Antes que o fizesse, porém, a figura bonita de Oima surgiu logo adiante. Usando um vestido em tom marfim com o decote que revelava os ombros e o colo, luvas brancas até os cotovelos e um coque nos cabelos muito escuros, ela parecia mais parte da corte do que Sakura jamais seria, com a mesma compostura impecável daquelas outras jovens damas ávidas por um casamento.

— E onde é que você estava? — indagou ela — Estive procuran-

Notando a taça de cristal em sua mão, Sakura puxou-a para si e esvaziou todo o conteúdo em goladas rápidas; tinha um gosto frutado, alcóolico e refrescante que fê-la torcer o nariz ao descer secamente pela garganta. Não era a primeira vez que bebia, mas certamente seria a única – e assim esperava – em que o fazia para prolongar sua tenacidade para encarar aquela estranha situação.

— Mas... — Oima encarou a taça vazia. — O que diabos está acontecendo com você?

Sakura puxou o braço dela e entrelaçou-o ao seu, cruzando os dedos de ambas as mãos.

— Por que não caminha comigo um pouco? — sugeriu — Eu vou precisar da sua companhia.

Oima permeou os olhos escuros pelo rosto da maiko, encontrando ali a mesma peculiar expressão que a fizera cometer imprudências antes. Constatou-a pela primeira vez durante o castigo aplicado por Otsu, quando não quis se render ao orgulho da mãe e terminara com uma mão cortada cuja cicatriz ainda marca vividamente sua palma.

Não estranharia se a encontrasse outra vez em Lótus Celeste em um caso de desobediência juvenil. Porém, estavam em um baile. Não um qualquer: um baile em homenagem ao seu noivado. Na corte. Com conselheiros ali, oficiais aqui, comerciantes de luxo, artistas e engenheiros acolá. E, ora, era uma verdade que apreciava muito quando Sakura era menos Hinata e mais como si mesma – ácida e cheia de superioridade –, mas havia momentos em que uma pessoa deveria saber se portar com maturidade e compostura.

E aquele, certamente, era um deles.

— Sakura, o que está aprontando agora?

A herdeira virou o rosto para olhá-la e exprimiu um sorriso pequeno; ao longo daquela lenta caminhada – uma dissimulação de uma habitual conversa entre duas jovens mulheres –, o tecido de ambas as saias se roçava suavemente. Poderia esconder suas intenções e tentar formular uma desculpa, mas Oima veria através de suas mentiras e não possuía o tempo ou o desejo para entrar naquele jogo de dissimulação.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora