36. Fase III - Sukuinushi

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Sukuinushi: salvador, aquele que liberta/protege.

Importante: Apesar de estar especificado em "Introdução", acho importante relembrar a vocês que Kurushimi tem como objetivo retratar os comportamentos e filosofias de dois séculos atrás e que, em sua grande maioria, sabemos que são extremamente problemáticos hoje em dia, mas que eram comuns e aceitáveis na época, fazendo parte da criação e contexto da vida de cada personagem. 

Ao mostrá-los, jamais tenho o intuito de romantizar, tampouco são reflexos das minhas opiniões pessoais.
 Por isso, quando um personagem em específico for o foco do capítulo (o famoso pov) e estiver contando sobre uma situação ou falando sobre o comportamento de alguém, será sempre através da opinião, visão, personalidade, pensamento e criação dele, o que não significa que você, leitor, deve aceitar 100% o que ele está dizendo porque ele não tem conhecimento absoluto de tudo. Isso vale para a Sakura, o Sasuke, o Orochimaru, Karin, Gaara, etc.

A dica é sempre pegar todos os detalhes que eu vou colocando em cada capítulo e tirar suas próprias conclusões sobre tudo. E, ah, Kurushimi não segue o enredo do "bem vs mal" e "vilão vs herói", apenas personagens lutando pelo que acreditam e acham correto (mesmo que seja deturpado), compreender isso facilita bastante :) 

Boa leitura! <3




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Tóquio – 21 de setembro de 1877

Ano 10 da Era Meiji


Ininterrupta e abundante, a chuva persistia.

Embora acompanhada de trovões e uma forte ventania, o clima fora incapaz de dissipar turistas e moradores da capital que aproveitavam o festival com a mesma animação que o fariam em um dia quente e ensolarado. No entanto, o mesmo não pudera ser aplicado ao Imperador e seus seletos membros da corte que, desacostumados com o desconforto dos bancos de madeira, às multidões e barraquinhas de comida simples, decidiram fugir da cidade para abrigar-se no casarão do Major General ao entardecer para terem uma comemoração digna de seu status social.

Diante da grande ladeira de mármore entalhado, conselheiros, ministros e membros do Exército Imperial sentavam-se em poltronas de veludo com copos de bebida em suas mãos, engajados em uma conversa sobre os avanços econômicos do país. Ao fundo, reunidas em elegantes sofás floridos, suas esposas ciciavam sobre as futilidades próprias de seu mundo, o som delicado de suas xícaras de porcelana misturavam-se às gargalhadas e cochichos na sala formal, o cheiro do chá gyokuro pairando no ar, disputando com a fumaça do tabaco que muito lhe remetia ao odor de pólvora queimada em campo de batalha.

Alheio ao clima de confraternização, o general manteve os olhos atentos à janela, sondando o extenso jardim externo cujo paisagismo era uma fusão entre o luxo do Ocidente e o minimalismo do oriente. Soldados da guarda surgiam e desapareciam de seu campo de vista, dando voltas em torno da casa, vigiando entradas e resguardando muros, a atenção dobrada visto que o Soberano estava longe da muralha impenetrável de seu palácio.

Ainda que seu olhar estivesse fixo naquela direção, sua consciência jazia em outro lugar. Com as mãos para trás, parado em uma postura formal e elegante intrínseca à sua posição, aguardava o momento em que o soldado reapareceria com as notícias de que sua noiva havia retornado para o palácio, intocada e em segurança, embora a conhecesse o suficiente para suspeitar que, àquela altura, já havia conseguido escapar.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now