13. Fase I - Bushido

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Nota: Bushido - caminho do guerreiro


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Não se atreva a morrer, Uchiha Sasuke.

Mergulhado na escuridão, o garoto sentiu seu corpo arder em brasas.

Nem a mais terrível tortura se equiparava àquela dor, rasgando-o de dentro para fora como um parasita vasculhando suas entranhas para conseguir escapar. Preso em um ciclo de quase lucidez e total inércia, vez ou outra conseguia ouvir aquela voz que parecia querer chamá-lo de volta para a luz, nebulosa como se fruto de um sonho ou alucinação.

Em momentos breves, acreditava ter enxergado a saída; sua prisão era um túnel escuro cujo caminho longilíneo o levava a uma única porta, um ponto resplandecente e dourado, irradiando calor como uma chama. Prestes a alcançá-la, ela tornava a desaparecer e era novamente preenchido por um sofrimento indescritível que o arrastava para dentro das trevas, correntes pesadas que o trancafiavam em uma masmorra onde tudo que havia era dor e solidão.

Por um tempo incalculável, permanecera refém daquele ciclo infernal de luz e sombras, fuga e aprisionamento, sofrimento e salvação, empurrado para um abismo profundo e sem retorno, estendendo os braços para a porta dourada que escapava de seu alcance como areia entre os dedos, distanciando-se cada dia mais, até cessar de existir. Tentou mover os braços e pernas, respirar fundo ou abrir os olhos, concentrado no fato de que longe daquele vazio havia um mundo físico esperando por ele.

"Eu não quero morrer ainda", clamou. Mas estava só naquele mundo arquitetado unicamente para fazê-lo sofrer, encolhido como uma pequena criança, abraçando as próprias pernas. E tremia de frio e de medo, rogando por uma salvação: "por favor, ainda não", porque havia tanto para ser feito, um objetivo e uma vingança a se concluir.

Naquela disputa silenciosa entre dois opostos que desejavam tê-lo para si – a dor irremediável e a salvação –, uma terceira força surgiu e saiu vitoriosa. Aquela não o aprisionou ou aguardou ser alcançada, como suas rivais, mas caminhou ao seu encontro. E tão contrário a elas, ora radiantes como o sol, ora nebulosas como fumaça, era pequenina e frágil como a pétala de uma flor, parecendo tão ínfima se comparada à magnitude delas.

Aproximou-se dele, segurando sua face entre as mãos macias, um toque quente que afastou todos os medos de seu coração e envolveu-o em uma bruma perfumada, tão doce quanto um dia de primavera. Trêmulo, abriu os olhos na escuridão e encontrou a figura sorridente diante de si, composta de tons de esmeralda e cor-de-rosa, os lábios vermelhos abertos em um sorriso, a pele tão pálida que reluzia sobrenaturalmente no preto, como uma pérola no fundo do mar.

A menina resvalou o polegar em seu rosto, sutilmente.

O que está fazendo aqui sozinho?.

Abriu os lábios para responder, mas faltou-lhe o fôlego para conseguir, o coração tão comprimido no peito que temeu que não mais aguentaria aquela tortura. "Me ajude, por favor", pensou ele. E não fora necessário que dissesse uma única palavra, pois como se conseguisse compreender seus sentimentos, a menina sorriu.

Você gostaria de sair? Alguém chama por você.

Sasuke assentiu, o corpo inteiro tomado de um tremor terrível e tanto frio. A menina se aproximou de seu rosto, tocando a testa brilhosa na sua, enchendo-o de calor e esperanças, expulsando toda a dor. Ao redor deles, a escuridão gradualmente se desfez, descascando das paredes, flutuando como flocos de neve na atmosfera, os cabelos cor-de-rosa caídos em seu colo, as mãos dela deslizando para suas costas, envolvendo-o em um abraço perfumado.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Onde histórias criam vida. Descubra agora