23. Fase II - Kamau

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Nota: Kamau - se importar, se preocupar.


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Tóquio – 1 de agosto de 1877

Ano 10 da Era Meiji


Cinco anos antes, estivera naquela mesma posição.

Embora cheio de fraturas ósseas, ferimentos, hematomas e uma incomparável exaustão que reprimia o movimento de cada um de seus músculos, mas, ainda assim, conhecia aquela sensação de sentir-se incapaz de cumprir as próprias expectativas e, igualmente, daquela impaciência eufórica para atingir seus objetivos mais rápido do que seria possível.

O sol acabara de equilibrar-se entre as montanhas quando ela tentou se reerguer.

Sob o céu cor-de-abóbora com nuances de escarlate e púrpura, Uchiha Sasuke sondou a mulher se apoiar no tronco largo de uma árvore para colocar-se de pé, parecendo não estar satisfeita em simplesmente desistir. Não ainda. Ao erguer o rosto em sua direção, notara sua pele alva reluzir de suor, as bochechas coradas, as pontas do cabelo preso colados ao pescoço, os lábios entreabertos em uma tentativa de recobrar o fôlego.

Ele suspirou discretamente, ainda parecendo-lhe tão errado submetê-la àquele tipo de tratamento – embora amenizado para não machucá-la –, sentindo uma dolorosa preocupação a cada vez que a assistia despencar no chão daquela forma. Honestamente, o verdadeiro treinamento era manter-se indiferente e estático em seu lugar quando tinha que empurrá-la ou aplicar-lhe uma punição à altura.

Argh, era fraco demais para aquilo tudo.

Com a wakizashi ainda apertada em sua mão direita, aproximou-se dela, sendo recebido com um sorrisinho gentil, emendado em uma arfada de cansaço. Guardou a espada na cintura em um anúncio subentendido de que estava na hora de interromper aquele treino e ir para casa, mas ela fez uma careta.

— Eu ainda posso — Sakura insistiu, sem fôlego — Mesmo.

Sasuke ergueu os olhos para vislumbrar o céu.

Iie — negou — Está escurecendo. Hora de ir.

Sakura ainda não estava pronta para retornar para casa, sobretudo porque estava ali há horas e sequer conseguira relar as pontas dos dedos na wakizashi perolada, odiando aquela sensação de sentir-se inútil, como se andasse em círculos e não conseguisse encontrar o rumo correto.

Passara tantos anos de sua vida esforçando-se para ser impecável em talentos e habilidades que nada lhe trariam em retorno além de um renome que não desfrutaria e um marido que não desejava, tampouco amava. De fato, desprezava. E agora que descobrira ser desajeitada no único conhecimento que poderia libertá-la de sua sina amaldiçoada, sentia-se terrivelmente frustrada.

O ronin baixou o rosto para ela, encontrando o semblante decepcionado e magoado, típico de um iniciante. Sho provavelmente também o encontrara nele, embora mergulhado em fúria e petulância, tão distante daquelas feições frágeis que lhe clamavam um "por favor", sem realmente precisar dizê-lo.

— Última vez. — Deu-se por vencido, afastando-se alguns passos para trás. — Lembre-se do que eu ensinei.

Ela abriu um sorriso pequeno e assentiu, afastando o cabelo do ombro e olhando para ele. "Você é menor e mais fraca, então deve ser mais rápida", lhe dissera. E como no kabuki, onde a teoria parecia muito mais simples que a prática, descobriu ser praticamente impossível fazer qualquer movimento sem que ele previsse seu próximo passo.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now