49. Fase III - Gaman

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Gaman:  Simboliza a perseverância e maturidade que alguém precisa ter para lidar com situações muito desagradáveis ou fora da sua zona de conforto. Na cultura japonesa, olhar somente para si mesmo (suas vontades) e esquecer das expectativas que outros colocam sobre você e suas obrigações na sociedade é um ato condenável de egoísmo.

Nota inicial: As referências visuais do capítulo estão no pinterest, nas pastas denominadas: "cenário", "figurino de Haruno Sakura", "figurino de Uchiha Sasuke" e "secundários".

Ps: Esse capítulo precisou ser dividido em dois devido ao seu tamanho, então escolhi fazer essa primeira parte com algo mais leve e a segunda vou deixar para a ação. Não esqueçam de ler as notas finais para meu recadinho e curiosidades do capítulo.

Boa leitura e não desistam de mim!


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Kyoto, 15 de dezembro de 1877

Ano 10 da Era Meiji


Em algum lugar da floresta, Sakura ouviu a musicalidade de um conjunto de violinos aflorar.

Sentada diante da penteadeira, desviou os olhos do espelho e encarou a janela, o estômago esfriando de inquietação ao compreender que a indesejada festa havia, enfim, se iniciado. Através da vidraça fosca de frio, conseguia enxergar os pontos de luz pendurados nos galhos das árvores e o conjunto de sombras de senhores engravatados que guiavam suas esposas e filhas pelos braços até o grandioso salão no interior da floresta.

Angustiada, tornou a encarar seu reflexo no espelho e soprou o fôlego em uma vã tentativa de acalmar-se. Era sua obrigação, compreendia. Qualquer outra mulher de sua idade passara uma vida inteira sendo educada para aquele momento, cumprindo as expectativas colocadas em seus ombros por sua família. Mesmo ela – somente uma maiko – não conseguiria fugir dessa regra social, pois se não estivesse enlaçada em um matrimônio, seria aprisionada para sempre em um okiya, de toda forma.

Apoiada na mesinha baixa, a luminária a gás banhava sua mão esquerda em uma luminescência amarelada e fazia a aliança de pedras preciosas reluzir intensamente sem jamais se apagar, aquele pequeno conjunto de estrelas particular que propositalmente a recordavam do contrato agora selado e anunciado para além de palavras e promessas.

Contrário aos ruídos externos, um silêncio mortal jazia nos corredores daquela casa. Oima, a senhora Hana e todas as outras mulheres convidadas para ficarem em Kyoto com ela, há muito partiram para o salão – uma construção ocidental em meio à mata que em nada combinava com o tradicionalismo oriental de toda região. Com elas, igualmente foram seus maridos, irmãos e filhos, deixando para trás apenas o vazio, uma estranha quietude, a escuridão e ela.

Ainda estava ali, sentada no banco de veludo, terrivelmente atrasada e amedrontada, sabendo que à partir do momento que ultrapassasse as portas do baile ao lado de Orochimaru, todos os "possivelmente" e "talvez" relacionados a eles tornar-se-iam certezas absolutas. Jamais questionariam se ela era mesmo a noiva dele e sobre ela colocariam títulos e anseios, aceitando-a como um membro oficial da corte.

Aquela gaiola feita de ouro – mais uma em sua inestimável coleção.

Tentou respirar profundamente desta vez, mas as barbatanas de aço de seu espartilho comprimiam sua cintura de tal maneira que fora incapaz de completar sua ação. Sobre uma camisola fina – cuja barra de renda terminava a um palmo de seus joelhos – aquele instrumento de tortura restringia cada um de seus movimentos, apertando e marcando sua carne como ferro em brasa, os seios tão empurrados para cima, projetados no decote de cetim perolado, que era um milagre seu coração ainda continuar batendo.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now