31. Fase II - Seichō

1.2K 143 107
                                    

Seichō: Crescer, amadurecer

Importante: leiam as notas finais.

• ────── ✾ ────── •



Tóquio, Lótus Celeste – 6 de setembro de 1877

Ano 10 da Era Meiji


Paixão e brandura. Intuição e razão. Suavidade e dureza.

Enquanto no mundo das gueixas, a espontaneidade dos homens era repudiada como a praga mais perigosa, no Kabuki as contrariedades do feminino e masculino se encontravam para dar luz à cada movimento. E se antes o auge da perfeição habitava na impecabilidade, ali despiram-na de todo rigor e a ensinaram sobre a beleza de ser imperfeita.

Dentro daquele universo único, não havia uma exaltação à pureza, testes de virgindade ou expectativas de casamento. Ali era permitido que a verdadeira Sakura viesse à tona, não para que fosse julgada por seus delitos, mas admirada por sua essência de mulher, parcialmente aflorada nos braços do ronin e gradativamente conquistada por esforço próprio.

Como um monge, Mokuami exorcizava as influências de Mamãe e as acorrentava em um lugar que a maiko – protegida entre as paredes do salão de ensaio – não pudesse alcançar. E desta forma tentou guiá-la ao longo de árduas semanas, dia após dia, do amanhecer ao anoitecer, incitando-a a ultrapassar as barreiras tão profundamente enraizadas dentro de si.

E ela tentou.

Há duas semanas da apresentação mais importante de sua vida, ainda enfrentava obstáculos que deixavam sua performance longe das expectativas de Mokuami e Mamãe. Ao contrário do que havia imaginado, ser beijada e acariciada de uma forma tão íntima por Sasuke não havia facilitado em sua entrega ao papel, pois ser tocada pelo homem que gostava e por um desconhecido eram duas situações muito distintas.

Simplesmente não conseguia ficar à vontade.

— Mais uma vez — o escritor ordenou — Senhorita Yaeko, Ninigi é seu amante, lembre-se disso.

Comparado aos primeiros ensaios com a maiko, Mokuami notara uma gritante melhoria. Sua capacidade técnica em memorizar cada passo e gesto de mãos era tão surpreendente que parecia-lhe que dançar – em qualquer categoria – era uma espécie de segunda natureza para ela.

Tudo, do posicionamento do corpo, sua inclinação de pés à leveza havia escalado a um nível de profissionalismo admirável, mas faltava algo, o mais essencial: emoção. E preocupava-se tanto com aquilo que o mero pensamento de ter uma atriz desalmada o representando fazia sua cabeça pulsar e os dentes rangerem.

Yaeko Sakura possuía todas as características físicas esperadas de Sakuya-hime, mas sequer parecia apaixonada por Ninigi. E, céus, era a história de dois amantes! Nenhum figurino, dança ou decoração fariam sentido se a audiência não pudesse acreditar que ambos se amavam intensamente.

Quando ordenou que recomeçassem, a herdeira aquiesceu ao seu comando. Aproximou-se do ator e passou a manga do kimono coral salpicado de flores por cima dos ombros dele. Kikugorō enlaçou sua cintura para apoiar o peso dela em seu corpo e ambos giraram em um ritmo lento.

Era imprescindível que o contato físico do casal fosse crível, pois aquele era o primeiro gesto de amor entre eles. Experiente, o ator simulou o sentimento por Sakura com facilidade, mas o mesmo não poderia ser dito sobre ela, olhando o colega de cena como olharia para qualquer outro estranho na rua.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Where stories live. Discover now