O Retorno da Descarada

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Vinte anos depois de seu casamento, Alessandro e Maribel tiveram certeza de que foram feitos um para o outro. Era como se o destino houvesse cruzado o caminho de ambos e lhes tivesse feito sofrer por muito tempo antes de que se encontrassem e se amassem.

- O verdadeiro amor, eu conheci apenas com você, Alessandro! – lhe disse Maribel, em seu vôo de Nova York com destino ao México.

- E prometo te amar para sempre, nessa e em outras vidas, meu amor – respondeu Alessandro.

Era verdade que já haviam sofrido muito. Se conheceram há quase 30 anos, por uma grande coincidência, onde Maribel estava noiva do melhor amigo de seu atual marido. Heitor foi o primeiro amor de Maribel, mas Alessandro foi o único a quem ela verdadeiramente se entregou.

- Está com saudades do México? – lhe perguntou Maribel.

- Estou mais curioso pra saber como tudo vai por lá – lhe respondeu Alessandro, honestamente – A verdade meu amor, é que além da minha família, tenho poucos amigos a quem gostaria de ver por lá. Marcos é um deles, mas há anos se mudou para uma cidade do interior com Cristina.

Marcos era o melhor amigo de Alessandro. Ambos estudaram na mesma faculdade de medicina e trabalharam juntos no hospital Buenaventura, no México. Marcos recebera uma proposta de atuar como diretor em um hospital muito renomado, em uma cidade do interior. Não pensou duas vezes para se mudar com sua família pra lá. Ele e Alessandro não se viam há mais de 15 anos, sendo a última vez no México, quando Alessandro fora visitar seus pais.

Agora era a vez de Alessandro brilhar em sua profissão. Recebera há pouco mais de um mês a proposta de voltar para o México, como diretor do hospital Buenaventura. O mesmo hospital onde iniciara sua profissão e tivera tantas lembranças. O último hospital em que havia trabalhado enquanto ainda morava no México. Ao receber a proposta, pensou em recusá-la. Conversou com sua esposa e com seu filho, Carlos, que agora já tinha dezoito anos e ainda não havia decidido que curso superior iria seguir.

Após refletirem por algumas semanas, tomaram a decisão de voltar para o México. Afinal de contas, os pais de Alessandro e de Maribel já se encontravam mais idosos, e passar um tempo a mais com eles lhes pareceu uma ótima ideia. Carlos também poderia ter contato com seus avós e decidir com mais calma que carreira seguir.

Uma semana após a mudança, Alessandro se arrumava para seu primeiro dia como diretor do hospital Buenaventura. Sua mulher o admirava enquanto o ajudava a escolher a gravata perfeita:

- Te acompanho até lá, meu amor. Quero que tudo saia perfeito!

- Obrigada minha linda – Alessandro a beijou enquanto ajeitava sua gravata – Gostaria que o Carlinhos também fosse para que conheça o hospital onde eu iniciei minha carreira como médico.

- Meu amor, nosso filho terá todo o tempo do mundo para te visitar no trabalho. Essa é a primeira semana dele no México, deixe-o aproveitar!

- Claro, meu amor. Você tem toda razão!

Eles chegaram ao hospital e Alessandro parou para admirá-lo. Pouca coisa havia mudado. O estacionamento agora era maior e a pintura era outra. A estrutura era maior e o fluxo de pessoas também. Ambos entraram no hospital e Maribel lhe deu um beijo:

- Boa sorte em seu primeiro dia de trabalho, senhor diretor do hospital Buenaventura!

Alessandro caminhou pelo hospital, visitou todas as salas e ficou admirado com o quanto a estrutura crescera. Seria um recomeço para ele e para sua família. Ao voltar para seu escritório, ouviu uma batida na porta:

- Pode entrar!

- Com licença, pai – era seu filho, Carlos.

- Filho? Achei que não quisesse vir – era evidente que Alessandro se encontrava muito feliz – o que achou do hospital?

- Eu amei, pai! – Carlos parecia tão excitado quanto o pai pelo novo emprego – E não é somente isso. Vim aqui para te dar uma notícia!

- Uma notícia? – perguntou Alessandro, intrigado – Espero que seja boa!

- É ótima! – Carlos não conseguia parar de sorrir – Pelo menos eu acho que o senhor vai adorar!

- Então chega de suspense e me diga logo!

- Eu acabei de voltar da faculdade. Resolvi me inscrever no curso de medicina quando cheguei no México, e acabei de descobrir que passei! Quero ser médico como o senhor, pai!

Alessandro não conseguiu conter suas lágrimas... Era verdade que seu sonho era ter um filho médico, mas nunca foi algo que lhe impôs a ninguém. Sempre deixou claro que seu filho poderia seguir a profissão que quisesse, e que iria apoiá-lo independentemente do que fosse. Mas ouvir essas palavras de seu filho, o deixaram sem chão... Foi a maior recompensa e a maior felicidade que já sentira na vida!

- Filho, você tem certeza? Sabe que não precisa fazer isso para me agradar, não é?

- Pai, eu nunca estive tão certo de algo na vida. E sim, sei que não preciso fazer nada para te agradar. Eu quero entrar por vontade própria. Porque me emociona saber quantas vidas o senhor já salvou, e é isso que quero pra mim!

- Se é assim, você sabe que tem todo o meu apoio, meu filho! – Alessandro deu em seu filho um longo abraço e ambos se emocionaram. Tudo estava perfeito, e a família Cardenas nunca fora tão feliz.

- Bom, preciso ir agora – disse Carlos – Vou voltar à faculdade e concluir a minha matrícula.

- Se quiser, te acompanho, meu filho.

- Não é necessário, pai. Além do mais, não quero te atrapalhar no seu primeiro dia de trabalho. Já pedi para que a mãe me acompanhe.

- Tudo bem. Bom, lhe acompanho então até o estacionamento!

- Ótimo!

Ambos caminharam em direção ao estacionamento. Alessandro, mais feliz do que nunca, deu um último abraço em seu filho e o observou sair com o carro, enquanto imaginava o futuro brilhante que teria. Encaminhou-se em direção ao seu consultório e quando abriu a porta...

- Rubi? – Ele não acreditou no que seus olhos viam... – Não pode ser...

- Olá, Doutor Cardenas... – ela o pegou pela gravata e o beijou.

Rubi - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora