A Crise

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Fernanda:

O que é que ele acabou de dizer? Não, não... Eu só podia estar ficando surda ou louca. Casar? Ele vai se casar?

Observei meu namorado e ele se abraçando na maior felicidade. De tudo o que falaram, lembro-me apenas das palavras "padrinhos" e "três meses". Não prestei atenção no resto da conversa, pois estava muito ocupada tendo - o que eu imagino ser - uma crise de pânico.

- Nanda? ... NANDA! - Quando voltei à realidade, me dei conta de que meu namorado estava em cima de mim, me abanando, enquanto Miguel olhava de longe meio assustado. Eu estava caída ao chão.

- Chame uma ambulância! - meu namorado gritava.

- Não é necessário! - respondi - Eu estou bem! - me sentei em uma das cadeiras, ainda sentindo meu coração bater muito rápido.

- Tem certeza? - meu namorado me ajudava a levantar - O que você tem?

Eu ainda estava processando toda a informação à minha volta:

- Crise de pânico - respondi - Tive alguns episódios na adolescência. Às vezes volto a ter.

Miguel pegava um copo d'água e entregava para o meu namorado. Ele me dava na boca:

- Você tem isso? Por que não me falou antes? - Daniel estava muito preocupado.

- Eu também retirei as amígdalas e os sisos quando era pequena, você quer saber de tudo o que já fiz? - eu estava impaciente e ainda sentia meu coração palpitar muito rápido.

- Me desculpe - me senti mal por ter sido grossa - Eu só estou preocupado.

- Eu sei, me desculpe também. Mas fique tranquilo - eu peguei o copo das mãos dele e dei um gole - Isso acontece raramente, geralmente é desencadeado por algum desconforto ou alguma mudança repentina.

- Ficou assim por conta da notícia? - Miguel perguntou, preocupado.

- Não - respondi exageradamente rápido e tentei pensar em uma desculpa - Eu discuti com os meus pais por telefone antes de vir pra cá.

Ele não parecia muito convencido, mas pelo menos não me perguntou mais nada.

- Quer se deitar? - perguntou Daniel. Eu não queria me deitar, mas queria ficar um tempo sozinha, então aceitei com um aceno.

Encontrei-me no quarto de meu namorado, sozinha, chorando e lamentando aquele maldito casamento. Ele estava fazendo aquilo para me provocar? Ele conhece a garota há três meses e já vai se casar, isso é um absurdo!

A porta do quarto se abriu e avistei meu namorado se aproximando de mim com uma caneca de chocolate quente. Ele sentou-se ao meu lado, entregou a caneca e me abraçou:

- Não precisa me contar o que aconteceu, só precisa saber que estou aqui do seu lado - ele me beijou na cabeça carinhosamente e eu não consegui evitar que as lágrimas rolassem.

Eu estava extremamente confusa, chorando por alguém que claramente não se importava mais comigo, enquanto alguém que, verdadeiramente me ama, me abraçava ao me consolar. Será que ele estaria do meu lado me abraçando se soubesse que o motivo do meu choro é o casamento do seu melhor amigo? O que eu estava fazendo da minha vida? Estava jogando uma oportunidade única de amor no lixo? Faria igual minha tia Rubi fez com o Heitor?

A minha vingança era contra os Cárdena e Daniel não tinha nada a ver com isso. Ele foi apenas um acaso - muito bom - que apareceu em minha vida. Será que teria tempo para o amor depois de me vingar? Talvez com o Miguel, fosse só uma paixão passageira. Mas Daniel esteve ali por mim em todos os momentos da minha vida. Sem questionar, sem julgar. Talvez fosse a hora de me entregar para quem realmente se importasse comigo.

Rubi - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora