Rubi - O Retorno

Um Dr. Cárdenas Para Lhe Consolar

Naquela noite, o Dr. Cárdenas teve um sonho engraçado. Se casava com Maribel, e na sua lua de mel, quando faziam amor e ele olhava pra baixo... Lá estava Rubi, gemendo o seu nome... Ele gritou, acordou assustado e com uma ereção.

Ele pensou sobre todas as vezes em que já havia sofrido por ela, e sobre todo o passado que deixara para trás. Não havia um dia desde então em que houvesse deixado de pensar pelo menos por um segundo na mulher que uma vez, destruíra sua vida. Era muito afortunado por haver se casado com uma mulher tão incrível quanto Maribel. Esta também sofrera demais nas mãos de Rubi e de seu ex amor, Heitor, que coincidentemente fugira com Rubi no dia de seu casamento para viverem um romance que tinha de tudo para dar errado. E realmente deu. Heitor morreu alguns anos depois e Rubi, ninguém sabe até hoje de seu paradeiro. A última imagem que tem dela, é dela toda desfigurada e com uma das pernas sendo amputada. Por onde andaria? Haveria ela morrido? De uma coisa ele tinha certeza: ela havia pagado todos os seus pecados nesses últimos anos. Apesar de tudo, o Dr. Cárdenas nunca desejara o mal de Rubi.

- Tudo bem, meu amor? – lhe perguntou Maribel.

- Sim, foi só um pesadelo.

- Como foi? – ele corou.

- Sonhei que você e Carlinhos iam a Nova York e nunca mais voltavam!

Maribel sorriu e lhe beijou:

- Prometo que voltaremos. Só vamos para pegar umas documentações do Carlinhos, em uma semana no máximo, estaremos de volta!

- Quer que lhes acompanhe até o aeroporto?

- Não será preciso meu amor, nosso voo é pouco antes do almoço.

- Boa viagem meu amor! – ele a beijou.

Ele se arrumou, pegou o carro e dirigiu para o trabalho. Tentou se distrair e não lembrar o sonho que tivera a noite, mas quando chegou ao consultório...

- Fernanda? – ela usava apenas uma saia social e um sutiã de veludo, preto. Quando o avistou, rapidamente se cobriu com uma toalha.

- Me desculpe, tive um outro incidente... Fui trocar a tinta da impressora e me manchei inteira... Como lembrei que você tem roupas reservas aqui, eu tomei a liberdade...

- Claro, sem problemas, fique à vontade.

A imagem dela seminua não saia de sua mente, por mais que ele desviasse o olhar.

- Alessandro, estava me perguntando, tem algum problema se eu sair mais cedo hoje?

- Claro que não – disse ele, voltando o olhar à ela, agora que já estava vestida – Posso perguntar por qual motivo?

Ela parecia sem graça, mas respondeu:

- Vou almoçar na casa do Daniel hoje. Ele vai me apresentar aos seus pais.

Alessandro hesitou um pouco para responder:

- Daniel é o rapaz que esteve aqui? – ela concordou com a cabeça – Entendo. Bom, acho que não é preciso dizer para se cuidar. Se precisar de algo, é só pedir!

- Muito obrigada!

Ela saiu do consultório o deixando sozinho com seus pensamentos. O que era essa mistura de sentimentos que ele estava sentindo? Estaria ele projetando seus sentimentos de pai em Fernanda? Ou estaria ele projetando sua antiga paixão dela?

Não, isso não poderia acontecer. Afinal de contas, ele já tinha o dobro de sua idade, e além do mais, tinha uma família maravilhosa em casa. Uma esposa perfeita e um filho abençoado. Nada poderia estragar isso.

O Dr. Cárdenas havia acabado de pedir uma pizza quando sentou-se ao sofá para admirar a chuva que batia contra a janela de vidro de sua sala. Acendeu um charuto e colocou uma dose de whisky para relaxar. Ao dar o primeiro gole, precisou levantar para atender ao telefone:

- Alô?

- Alessandro? – era uma voz de choro.

- Quem é?

- Alessandro, sou eu, a Fernanda.

- Fernanda? O que houve? – ele parecia preocupado.

- Eu... – ela começou a chorar incontrolavelmente – Aconteceu algo...

- O que houve? Onde você está? – ele estava mais preocupado do que nunca, ela tinha uma voz embriagada.

- Estou em um bar, vou te mandar o endereço.

Uma hora depois, ele voltava para a casa em seu carro. Fernanda, no banco do passageiro, enrolada em um dos casacos de Alessandro, molhada de chuva e sem dizer uma palavra sequer.

Ele abriu a porta do carro, a ajudou a descer e abriu a porta da sala. A acomodou de frente para a lareira e lhe ofereceu um chá.

- Quer falar agora sobre o que aconteceu? – ele lhe perguntou. Ela apenas acenou com a cabeça que não – Tudo bem. Mas precisamos trocar suas roupas, você estava embaixo da chuva, toda molhada. Precisa de um banho quente e de agasalhos.

Ela concordou e o acompanhou. Ele preparou uma banheira com água quente e a deixou à vontade. Separou um agasalho bem quente e cobertores. Quando ela saiu do banho, Alessandro observou que ela usava uma de suas camisetas:

- Separei agasalhos mais quentes para você aqui.

- Eu gostei dessa camiseta. Posso usá-la?

- Claro, como quiser!

Ela sentou-se na cama e ele lhe ofereceu outra xícara de chá, que ela aceitou, grata.

- Ele terminou comigo.

- Quem? O Daniel?

- Sim.

Alessandro não sabia o que dizer. Apenas esperou que ela continuasse.

- Me disse que gostaria de ter uma prova de amor verdadeiro.

- Que tipo de prova?

- Você sabe que tipo de prova – disse ela, chorando. Ele assentiu – Você estava certo. Todos os garotos só pensam em uma coisa.

- Ele te forçou a fazer algo?

- Não, não me forçou a nada. Mas disse que se eu não fizesse, não iria namorar comigo.

- Ele é um idiota!

- E eu sou mais ainda!

- Não, claro que não! – ele a abraçou – Nunca diga isso! Ele foi um imbecil, te faltou com o respeito. Você não tem culpa de nada! – ela chorava descontroladamente.

- Será que algum dia, vou arrumar alguém que me ame de verdade? – perguntou entre lágrimas.

Ele virou gentilmente seu rosto em direção ao dele, e enxugou suas lágrimas:

- É claro que vai! E essa pessoa vai ter muita sorte de estar com você!

Ela o abraçou forte e ele retribuiu. Seus dedos tocaram gentilmente os cabelos dela e ele sentiu seu perfume mais forte do que nunca. Seus olhos se encontraram e as mãos dela tocaram seu rosto de uma forma que há muito tempo, ninguém havia tocado. Ela se inclinou e ele cedeu, e quando percebeu, seus lábios haviam tocado um ao outro em um grande beijo cinematográfico.