O Interrogatório

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- A senhorita sabe porque está aqui? - a detetive se referia à Fernanda, na sala de interrogatório.

- Não - ela olhava a detetive no fundo dos olhos.

- Senhorita... Fernanda Perez, correto? - ela olhava para a ficha que tinha em mãos e Fernanda assentiu - Senhorita Fernanda, te chamamos aqui hoje porque um corpo foi encontrado na floresta abandonada próximo à divisa do estado. A senhorita tem ideia de quem se trata?

- Não.

- Se trata do corpo de Rubi Perez, sua tia. Dada como desaparecida há mais de quinze anos.

- Não era próxima de minha tia, para falar a verdade. Toda a nossa família pensava que ela já estivesse morta.

- E ela está. Há aproximadamente nove meses. 

- Como disse, eu não tive contato nenhum com ela. Se ignorar o fato de que a última vez que a vi, eu tinha cinco anos de idade. Ainda não entendi o motivo pelo qual estou aqui.

- Senhorita Perez, nós entramos em contato com seus pais, e eles já estão a caminho. Normalmente não faríamos esse tipo de procedimento após encontrar uma pessoa há tanto tempo desaparecida - e até já dada como morta pela polícia - mas o fato é que sua tia foi assassinada.

- Ainda não entendi o motivo de terem me chamado aqui.

- Nós estamos reunindo testemunhas, pessoas que conviveram - mesmo que por pouco tempo - com Rubi Perez. Estamos tentando entender o que levou alguém a assassinar a sua tia e para isso, precisamos de relatos. Pode me contar quando foi a última vez em que a viu?

- Como disse, eu não me lembro, já faz muitos anos.

- Faça um esforço para se lembrar, por favor.

- Bom - ela se esforçou para se manter calma - Acredito que a última vez tenha sido na casa de minha avó, quando eu e meus pais ainda vivíamos lá.

- Interessante. A casa de sua avó está abandonada há alguns anos, procede essa informação?

- Não sei, acredito que sim. Meus pais se mudaram para o interior e eu vivo em um apartamento ao lado da faculdade.

- Certo, então a informação procede. A perícia esteve por lá hoje, e sabe o que encontraram? 

O coração de Fernanda gelou e ela sentiu o chão lhe escapar aos pés. Semanalmente, Fernanda visitava sua tia em sua antiga casa e com certeza, encontrariam lá algum vestígio de sua presença. Além do fato - é claro - de que a tia fora assassinada na casa e a cena do crime não foi limpa.

- Não faço ideia.

- Bem, eu te respondo: nada. Não encontraram nada. A casa estava impecavelmente limpa depois de mais de quinze anos abandonada. Quase como se alguém tivesse entrado na casa e a limpado perfeitamente há alguns meses atrás.

Fernanda respirou aliviada. Não deixou de se perguntar quem poderia ter limpado a casa, mas sabia que devia agradecer muito a essa pessoa.

 Após mais algumas perguntas - nenhuma delas de muita relevância - a detetive a dispensou. Ao sair da sala, se deparou com Loreto entrando na sala de interrogatório ao lado. Pensou em cumprimentá-lo, mas ao avistar seus pais entrarem pela porta da delegacia, não disse nada.

- Mamãe! - elas se abraçaram - Que pesadelo é esse!

- Como você está, minha querida? Está tudo bem? - Ela estava preocupada.

- Pai, que bom te ver! - eles se abraçaram por alguns longos segundos.

Permaneceram na delegacia por mais duas horas, até que todos foram dispensados. Os três foram almoçar em um restaurante próximo.

- Como estão as coisas? - perguntou Cristina.

- Estão indo bem, claro, tirando os acontecimentos recentes.

- Não se deixe abalar por isso - Cristina tinha um olhar preocupado - Você precisa focar nos estudos. Logo essa investigação termina e você poderá viver a sua vida normalmente.

- Não se sente mal por terem encontrado o corpo da minha tia?

- É claro que me sinto mal - Cristina olhou para seu marido - Mas não há nada que possa ser feito. Espero que encontrem o assassino e que finalmente ela possa descansar em paz.

- O que acha disso tudo, pai? - Ele tinha um olhar vago.

- Minha princesa… Sua tia atormentou muitas pessoas enquanto esteve viva. Sei que é horrível dizer isso, mas ela está pagando por tudo que fez. 

- Então concorda com o assassinato? - Ela parecia assustada.

- Não concordo, não acho que ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém. Só estou dizendo que não me espanta que alguém o tenha feito. Já era de se esperar.

Eles terminaram de almoçar quando Cristina e Marcos receberam um telefonema da detetive, avisando que seus depoimentos já não seriam necessários e que poderiam voltar para a sua cidade. O corpo não seria liberado até que terminassem as investigações.

- Bom, eu e seu pai precisamos ir - Cristina abraçou a filha - O hospital está uma correria e nós só realmente viemos porque foi um pedido da polícia. 

- Tudo bem, mãe. Foi bom te ver. Vocês dois! 

Eles se abraçaram e Fernanda os avistou partir. Pegou um táxi e se dirigiu até o seu apartamento.

- Loreto! - eles se abraçaram - Você está bem?

- Na medida do possível! E você? 

- Também.

- Jurei que não íamos sair em liberdade depois dessa - ela respirou aliviada.

- Eu também! Mas tudo correu bem, graças a Deus!

- Não sei se Deus está feliz com tudo isso - ela se servia de um pouco de água.

Eles conversaram por alguns minutos e trocaram informações sobre os depoimentos.

- A detetive falou sobre a casa antiga dos meus pais? 

- Não! O que?

- A polícia foi até lá!

- Ai meu deus! - ele soltou um grito e colocou a mão na boca, aterrorizado.

- Eu sei, também tive essa reação, mas sabe o que me falaram?

- O que? - Ele mordia as unhas.

- Que não encontraram nada!

- Como assim, nada?

- A casa estava limpa! Sem sangue, sem evidências, sem nada!

- Meu Deus!

- Foi você?

- É claro que não fui eu! Se fosse, eu teria te contado!

- Eu sei - ela suspirou - Mas é estranho, não acha? Alguém ir até a casa e limpar todas as nossas evidências… Tudo bem que nós não somos culpados, mas íamos parecer muito suspeitos depois dessa…

- Não está claro quem foi?

- Você sabe quem foi? - Ela estava curiosa.

- É claro que sei quem foi. Não resta dúvidas! Foi o assassino!

Rubi - O RetornoWhere stories live. Discover now