Planos e Segredos

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O som do piano era celestial. Fernanda sentia que pertencia àquele lugar. A elegância, a riqueza, o luxo... Tudo aquilo era o que ela sempre quis. Imaginou como seria morar em uma mansão daquelas, cheia de empregados... Se tornaria o seu sonho em realidade?

Tudo ocorria perfeitamente bem, não fosse por uma jovem moça de cabelos loiros passando mal na mesa sete. Sem saberem o motivo, as pessoas começaram a se desesperar. Os pais da menina rapidamente vieram e a colocaram dentro de uma ambulância.

O Sr. Valência era um homem baixinho e gorducho de aproximadamente cinquenta e cinco anos, e encontrava-se mais furioso do que nunca:

- Quero o chefe de cozinha demitido! – ele gritava - E todos os responsáveis por servirem essa porcaria na mesa de minha filha!

A Senhora Valência era uma mulher alta e esguia, muito magra, elegante e pescoçuda. Trajava um elegante vestido de veludo preto, um par de luvas altas até quase o ombro e um conjunto de esmeraldas, compostos por um belo colar, dois anéis e um par de brincos. Encontrava-se arqueada em direção à filha, na maca, chorando e limpando suas lágrimas com um elegante lenço de seda preto. Pessoas ricas realmente sabiam como fazer drama.

- Qual o problema, Sr. Valência? – perguntou a governanta da mansão.

- O problema é que minha filha quase morre por ingerir amendoim. Cansei de avisar a todos os malditos cozinheiros que ela é alérgica à essa porcaria. Quero todos demitidos, imediatamente!

A festa terminara de maneira trágica e todos os convidados se encontravam do lado de fora da mansão, assistindo à cena. A ambulância já havia medicado a filha dos Valência e ela encontrava-se fora de risco. Mesmo assim, o Sr. Valência impediu que os profissionais da saúde fossem embora e os fez aguardar até que a filha admitisse estar melhor (coisa que não aconteceria tão cedo).

- Daniel! – o pai o chamava – Preciso de sua ajuda na cozinha para demitir os funcionários!

- Fernanda, preciso ajudar o meu pai – disse Daniel, enquanto beijava a mão dela – Mas volto assim que possível. Por favor, sente-se e me espere, vou te levar para a casa.

Ele saiu apressado em direção à cozinha, junto de seu amigo Miguel. Fernanda sentou-se em uma das cadeiras e continuou a observar a situação.

"Finalmente essa pirralha aprendeu a lição" – pensou.


Vinte minutos já haviam se passado e Daniel ainda não havia voltado.

"Qual a dificuldade em demitir alguns funcionários?" – pensou.

Impaciente, Fernanda levantou-se da cadeira e caminhou em direção ao portão. O porteiro tomava conta do lugar:

- Onde posso encontrar algum taxista? – perguntou ela ao porteiro.

- Posso ligar para um, senhorita. Se me permitir um minuto...

- Pode deixar Sebastian, ela vai comigo – Um rapaz loiro e esbelto apareceu ao portão, dentro de um Porsche – Vamos, entre! – disse à Fernanda.

- Há! Há! Há! – ela debochou ao olhar para o motorista – Você está louco se pensa que vou entrar nesse carro com você.

- Bom, eu acho que você não tem escolha. Já viu que horas são? Vai ser impossível conseguir um táxi a essas horas... Então a menos que você queira voltar a pé ou esperar o drama da Maria passar, é melhor entrar logo antes que eu mude de ideia.

Contrariada, porém, sabendo que era a sua única opção, Fernanda entrou no carro de Miguel. Sem dizer uma palavra sequer, colocou o cinto de segurança. Alguns minutos se passaram e o silêncio prevalecia no carro. Apesar de não haver trânsito por conta do horário, era uma longa viagem. Miguel colocou uma música para tocar e Fernanda revirou os olhos:

Rubi - O RetornoWhere stories live. Discover now