Rubi - O Retorno

A Máscara Caiu

- Bom dia, hora de acordar! 

Miguel acordou desejando voltar a dormir. Teve a sensação de que quinhentos caminhões haviam passado por cima de sua cabeça na noite anterior. Abriu os olhos aos poucos devido à claridade e, após alguns segundos, observou Fernanda à sua frente, lhe entregando uma bandeja com água, analgésico, pão e café.

- Foi o melhor que consegui fazer, porque não sei onde se meteu a cozinheira.

Ele agradeceu e tomou o analgésico logo em seguida.

- Obrigado! Estou péssimo - ele se levantou e foi para o banheiro. Lavou o rosto e escovou os dentes.

- É isso que se ganha após virar uma garrafa de tequila inteira! 

- Você é experiente nisso, não é? - eles riram.

- Quando é que todo mundo volta, hein? - mudou de assunto.

- Não sei, Daniel me disse que levariam cinco dias no máximo, mas acredito que leve mais tempo. Afinal de contas, é da Maria que estamos falando.

- É, ela consegue ser complicada quando quer…

- Teve notícias do Carlos? - perguntou abruptamente.

- Do Carlos? - Ela ficou nervosa - Não, você teve? 

- Tem certeza? - o olhar dele a julgava.

- Por que está me perguntando isso? 

- Fernanda…

- Será que não tem como nós passarmos um dia sem discutir? Só um? - Ela já estava cansada.

- Eu não quero discutir. Quero apenas que me fale a verdade. 

- Que verdade é essa que você tanto quer ouvir? - Ela estava impaciente.

- A que você vem escondendo de nós desde que entrou para as nossas vidas. Fernanda, eu estive com o Carlos ontem. Eu já sei de tudo.

Ela sentiu seu coração acelerar e as palmas das suas mãos suarem. O instinto de um animal que se vê em perigo, tende para três lados: paralisar, lutar ou correr. E dessa vez, ela tendeu para o primeiro deles. 

- Vai ficar muda? Não vai falar nada? 

- E-eu - ela limpou a garganta - Eu não sei do que você está falando. Você esteve com o Carlos? O que aconteceu com ele? 

- Fernanda, acabou. Aceite que eu já descobri a verdade. Eu só quero entender o seu lado, quero entender porque você fez isso.

Fernanda:

Ele estava dizendo a verdade ou só estava jogando comigo? Naquele momento, eu paralisei. Não tinha para onde correr. Se negasse seria pior, mas se eu contasse a verdade, o meu lado da história, talvez ele me entendesse. Não poderia arriscar perdê-lo para sempre novamente. Respirei fundo e pela primeira vez na vida, acreditei que dizer a verdade seria a melhor das opções:

- Sim, fui eu quem o convenci a fugir. 

Eu observei o olhar dele mudar e sua expressão era uma mistura de espanto com incredibilidade. E foi então que entendi o que acabou de acontecer:

- Você não falou com ele ontem, falou? 

Ele negou com a cabeça e foi então que percebi que caí em sua armadilha. Senti o chão ao meu redor desabar e o olhar de decepção de Miguel me corroer por dentro. A única vez em que resolvi ser sincera na vida, acabou me prejudicando mais do que qualquer outra mentira que já contei.

- Miguel, eu…

- Você o convenceu a fugir? - ele gritava - Você está falando sério? É sério mesmo?