Ressaca e Revelações

108 19 0
                                    


Fernanda:

Me despertei no outro dia contra a minha vontade, desejando que um buraco fosse aberto do chão do quarto até o centro da Terra, onde eu pudesse me jogar. Além de sentir um belo de um mal estar físico, comecei a me lembrar dos vexames da noite passada. Não tinha como ficar pior do que isso!

- Tome! - Miguel entrou no quarto e, só então, percebi que eu tinha adormecido na cama dele. Me entregou um comprimido e um copo d'água, já presumindo que eu acordaria com uma ressaca terrível.

- Obrigada! - aceitei agradecida - e obrigada por ontem!

- Não fiz por você - seu tom era repreensivo - E sim pelo Daniel.

- Bom, não quero parecer ingrata, mas você fez porque quis. O Daniel poderia muito bem ter cuidado de mim - Sibilei antes de tomar o último gole d'água.

- Você realmente não pensa antes de agir, né?

- Ai! - minha cabeça explodia - Será que dá pra você parar de gritar? Eu estou passando por uma ressaca terrível aqui!

- Ah, claro. Me desculpe madame - ele fez uma reverência irônica - Algo mais que possa trazer para a senhorita melhorar?

- Na verdade uma compressa com gelo não seria nada mal... - sorri quando percebi que o havia irritado.

- Fernanda, eu não estou para as suas palhaçadas hoje - seu tom havia mudado - Se cuidei de você ontem, foi porque você não estava em condições de ficar perto de ninguém sem abrir a boca e disparar um monte de merda pela frente. Além de vómito, é claro! - ele apontou para a sua camiseta jogada ao chão, coberta de vómito.

- E o que é que você tem a ver com isso? - perguntei despreocupada.

- O que é que eu tenho a ver com isso? - ele riu ironicamente - Você só pode estar de brincadeira, não é mesmo? Já parou pra pensar no que aconteceria se você resolvesse abrir essa sua boquinha santa para o Daniel? E contar tudo o que rolou entre a gente? Hein?

- Ai poxa, quanto estresse... - me fiz de despreocupada - Olha, eu já te agradeci e prometo que não vai voltar a se repetir, então agora se me der licença, vou tomar o meu rumo para a minha casinha...

- Tem outra coisa - ele bateu a porta novamente, antes que eu pudesse sair. Fez uma pausa dramática e me perguntou - Que história é essa de vingança?

Minha respiração parou. Meu coração disparou. O que ele sabe sobre a minha vingança?

- Que vingança? - me fiz de desentendida, tentando esconder meu nervosismo através das palavras.

- Você me disse ontem sobre uma vingança. Estava chorando, implorou pra que eu me deitasse com você...

- Aí você já está inventando história... - interrompi, tentando mudar de assunto.

- Não estou inventando nada! E sinceramente, caguei se você queria que eu me deitasse contigo ou não. Mas você mencionou que o motivo de não estarmos juntos, é porque precisa completar a sua vingança contra o Carlos.

- Eu falei isso? - meu coração disparava cada vez mais rápido - Olha, parece que você também tomou umas ontem, hein, meu querido...

- Eu sei bem o que ouvi - ele mantinha a mão na porta, me impedindo de sair - Eu só quero saber o que é que o Carlos tem a ver com isso!

- Eu não faço a menor ideia do que você esteja falando! - meu tom de voz subiu - E porque é que eu iria querer me vingar do Carlos? Isso não faz sentido nenhum!

- Porque ele é filho do Alessandro! - soltou, inesperadamente.

- E o que é que tem? - minha voz saiu trêmula, a cada segundo estava ficando mais difícil de me controlar.

- O Dr. Cárdenas - ele se aproximava lentamente de mim, com um olhar duro e fixo - era ex da sua tia Rubi!

Meus olhos se arregalaram. Meus ouvidos não conseguiam acreditar nas palavras que saiam da boca de Miguel. Como é que ele podia saber tanta coisa assim sobre o passado da minha família? Eu fiquei muda. Não conseguia parar de encarar aqueles olhos azuis, amedrontada pela idéia do que eles seriam capazes de fazer comigo, até que...

- Ferreira - Sibilei, mas a voz saiu falhada - Ferreira - eu repeti.

- O que? - Ele parecia confuso.

- O seu sobrenome. É ferreira. Você é filho do - engoli em seco - Você é filho do Heitor! - Fiquei aterrorizada com o som de minhas próprias palavras, como se ao proferi-las, elas se tornassem reais.

Ele desviou o olhar do meu, abriu um sorriso malicioso e voltou a me olhar nos olhos:

- Por essa você não esperava, né?

Ele tinha razão. Por essa eu não esperava mesmo.

Alguém bateu à porta do quarto e eu respirei aliviada:

- Sim? - perguntou Miguel.

- A Fernanda está aí? - era a voz de Daniel - Ela já acordou?

- Sim! - respondi no mesmo segundo - Sim! - gritei mais alto - Pode abrir!

Daniel abriu a porta do quarto enquanto Miguel continuava a me fitar com seu olhar macabro. Rapidamente, corri para o lado de meu namorado e o abracei:

- Aconteceu alguma coisa? - ele perguntou, preocupado.

- Nada - respondi, ainda olhando aterrorizada para Miguel - Eu só estou muito cansada ainda!

Ele me deu um beijo na testa e agradeceu ao amigo por ter cuidado de mim. Pedi para que me levasse até em casa e, poucos minutos depois, eu estava em meu apartamento, recebendo uma xícara de chá quente de Loreto.

- Quer me contar agora o que rolou? - Loreto me olhava preocupado.

- Acabou tudo, Loreto...

Ele continuava a me olhar com curiosidade e preocupação:

- Como assim, acabou tudo, Primor? O que foi que aconteceu?

Olhei-o no fundo dos olhos e respondi:

- Miguel. Miguel é filho do Heitor. Ele descobriu tudo.

Pude sentir o pânico no olhar de Loreto se estabelecer junto ao meu.

Rubi - O RetornoWhere stories live. Discover now