Casamentos e Mentiras

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O aniversário de dezoito anos da filha mais nova do Sr. e Sra. Valencia foi comemorado - se é que se pode chamar assim - entre poucas pessoas: seu irmão Daniel, Miguel, Carlos, Valéria e Fernanda. Com menos de uma semana após o trágico acidente que levou a Sra. Valencia desta para a melhor, Daniel resolveu não deixar a data passar em branco e ordenou aos empregados que encomendassem um bolo e comprassem alguns comes e bebes. Foi tudo muito simples, mas ninguém estava no clima de festa.

A comemoração começou por volta das duas da tarde e se estendeu até às sete horas da noite. Os seis se ocuparam em se empanturrar de salgadinhos, jogar sinuca e vez ou outra, molhar os pés na piscina. Eles cantaram parabéns e, pouco antes dos convidados se retirarem, Carlos bateu em uma das taças com uma colher, para fazer um anúncio:

- E-eu esperava que fosse em uma ocasião melhor do que essa, mas - ele gaguejava de nervoso - j-já que seu pai não está aqui por enquanto... Daniel, eu gostaria de pedir a mão da sua irmã em casamento!

Os convidados se chocaram e Maria podia ser vista se debulhando em lágrimas de felicidade. Daniel o abraçou e confirmou:

- É claro que sim! Agora precisa saber se ela aceita! - os convidados riram.

- Maria - ele se ajoelhou, mas não chegou nem a terminar o seu discurso:

- É claro que eu aceito! - Ela pulou em cima dele - Aceito, aceito, aceito, aceito!

Eles se beijaram e Carlos lhe entregou a aliança. Todos os convidados estavam emocionados, incluindo, é claro, Fernanda, que quase não se conteve de alegria ao constatar que seu plano estava dando certo.

"Em meio a todo esse caos, já era hora, não é mesmo?" - pensou.

- Uau, agora temos dois casamentos pela frente! - constatou Daniel - Já sabem a data?

- Bom, eu estava pensando - discursou Carlos - Se você topar, é claro, e vocês também - ele se dirigia a sua noiva e a Miguel e Valéria - em ter um casamento conjunto.

- Quer dizer, no mesmo dia que o nosso? - perguntou Valéria, confusa.

- Não só no mesmo dia como no mesmo local. Podíamos nos casar juntos!

- Bom, se eles toparem eu também topo - disse Maria com um sorriso no rosto!

- Eu topo - respondeu Valéria.

- Eu também - Miguel estava de acordo.

- Maravilha! Teremos um casamento juntos! - Maria pegou nas mãos de Valéria e ambas começaram a pular de alegria.

Fernanda observou a cena e só conseguia se perguntar onde estava o latão mais próximo de lixo para que pudesse vomitar. Revirou os olhos quando ninguém estava olhando.




- Eles vão se casar? - Loreto estava surpreso.

- Não sei porque a surpresa - Fernanda contava distraidamente, enquanto tomava um gole de seu suco em uma das cafeterias do centro da cidade - Eu disse que o encorajei a pedí-la em casamento.

- Em quanto tempo eles se casam?

- Dois meses e meio. Ao mesmo tempo que Miguel e a sonsa da namoradinha.

- Acha que consegue fazê-lo desistir em menos de três meses? - Loreto arqueou uma das sobrancelhas.

- Se eu acho? - ela sorriu maliciosamente - Loreto, olhe para mim! Eu fiz esse cara se apaixonar por mim desde o primeiro dia em que me viu. Eu não acho, eu tenho certeza!

- E o que você vai fazer, preciosa?

- Bom, vou dar a eles uns dias de vantagem. Você sabe, para que comecem os preparativos e a avisar todo mundo. Assim, a bomba será maior quando explodir! E depois, eu vou pra cima com tudo!

- Fernanda, tão bela quanto malígna - eles riram maliciosamente.

- E me diz, como foi com o meu sogrinho? - perguntou ironicamente.

- Nem me fale - a expressão de Loreto mudou para tristeza - ainda está internado, mas já está se recuperando.

- Você chegou a falar com ele?

- Não... Não sei se ele gostaria de me ver.

- Por que não? Achei que vocês tivessem um lance!

- E temos! Mas ele deve estar abalado, acabou de perder a mulher...

- Ai Loreto, por favor, eles não deviam trocar uma palavra de amor há anos!

- Mesmo assim! São muitos anos de convivência e dois filhos criados juntos! Vou dar um espaço para o velho se recuperar, e depois, vou atacar! - ele sorriu animado.

- Se eu não te conhecesse... Diria que quem causou aquele acidente foi você! - ela riu.

- Mas que calúnia! - ele colocou as mãos no peito, ofendido - Se quisesse me livrar da velha Valencia, o tinha feito com veneno! - eles riram.

- Ah não... O que que aquela vaca está fazendo aqui?

Fernanda avistou Valéria entrar na cafeteria. A mesma dirigiu-se até o balcão e fez um pedido para viagem.

- Meio longinho da casa dela pra vir até aqui buscar um café, não acha? - Comentou Loreto desconfiado.

- E você sabe onde ela mora?

- Não, mas só de olhar para o estilo dela já dá para saber que não mora aqui no centro. Esqueceu que é meu trabalho reparar nisso? Eu sei de tudo! - ele sempre se gabava de adivinhar o bairro em que as pessoas viviam através de suas roupas.

- E quem é aquele?

Ela usava um óculos de sol e estava acompanhada de um homem alto e forte, também usando um óculos de sol, de mais ou menos trinta anos. Ele a ajudou com o pedido e ambos entraram dentro de um carro, olhando para os lados como se não quisessem ser vistos.

- Sei lá, talvez um irmão mais velho? - perguntou Loreto.

- Já viu um irmão mais velho abrir a porta do carro para a própria irmã?

- Talvez seja um amigo gay, igual euzinha aqui!

- Não sei não, Loreto... Isso tudo não me cheira bem!

Rubi - O RetornoWhere stories live. Discover now