O Assassinato

227 31 0
                                    

- Te lembra algo? – perguntou Fernanda, ao chegarem em frente à uma vizinhança de origem muito humilde.

- É claro que me lembra algo – Loreto olhava para as casas com uma mistura de receio e nojo – Primor, o que estamos fazendo aqui?

- Você já sabe a resposta.

Loreto engoliu seco. Apertou seu cachorrinho mais forte contra seu peito e recusou-se a abrir a porta do carro.

- Fernanda, eu não posso fazer isso...

- Do que você tem medo? Ela continua sendo a mesma pessoa de sempre, só não é mais bonita como antes.

- Eu nem sabia que ela continuava viva...

- Ah Loreto, por favor! Onde você acha que aprendi a me comportar assim? Com a sonsa da minha mãe? É claro que não! Minha tia tem sido minha mentora em todos esses anos!

- Fernandinha, nossa amizade não acabou da melhor forma possível... Depois do acidente, sua tia e eu não nos falamos mais...

- Pior ainda! Isso quer dizer que você a abandonou no momento em que mais precisava. É disso que você tem medo? Que ela faça algo contra você?

Loreto ficou em silêncio, sem saber o que dizer, ainda apavorado com a ideia de se encontrar frente a frente com Rubi.

- Ela não vai perder o tempo dela com você, Loreto. Está muito ocupada em acabar com a vida da família Cárdenas. Essa seria uma boa oportunidade para você se desculpar com ela.

- Me desculpar? Fernanda, sua tia colheu o que plantou...

- E você a ajudou, não foi? Pelo menos até que ela voltasse a ter essa vida miserável. Ficou do lado dela quando era rica, mas a partir do momento em que perdeu tudo, você milagrosamente refez a sua vida em nome da moral e bons costumes... Comigo essa desculpa não cola.

Loreto sentiu-se envergonhado e amedrontado ao mesmo tempo. Olhou em direção à vizinhança mais uma vez e saiu do carro.

Eles subiram as escadas, abrindo caminho entre os escombros da vizinhança. Estava muito escuro e não conseguiam enxergar mais do que um palmo em sua frente. Ao abrir a porta, um odor fétido lhes alcançou o nariz, provocando o vomito de Loreto.

- Tia? – Fernanda entrava cautelosa, abrindo caminho em meio aos escombros – Tia, sou eu. Que cheiro horrível é esse?

- Fernanda, vamos embora daqui – dizia Loreto, tampando seu nariz com a parte interna do braço – Não estou pressentindo nada de bom vindo daqui.

- Loreto, cale a boca! – disse ela impaciente, enquanto acendia a lanterna do celular – Tia, trouxe uma pessoa que você vai gostar de reencontrar.

Fernanda avistou a cadeira giratória da tia em frente à janela. Chamou pelo nome dela, mas a mesma não respondeu. Aproximou-se ainda chamando pela tia, e quando girou a cadeira, tomou um susto:

- Fernanda, vamos embora daqui – Loreto chorava enquanto olhava horrorizado para a cena.

O corpo de Rubi jazia na cadeira pelo que parecia há mais de três dias. O mau cheiro recendia no local e pelo chão, havia litros e mais litros de sangue. Em seu rosto, jazia uma expressão neutra, seus olhos abertos e em sua testa, a marca de uma bala que comprovava seu assassinato. Loreto estava em choque, com uma expressão de pânico no rosto, enquanto Fernanda segurava a mão da tia, seus olhos lacrimejando:

- Tia... O que foi que fizeram com você? – ela chorava enquanto analisava a cena.

- Fernanda... Vamos embora! – Loreto gritava apavorado.

Fernanda gentilmente fechou os olhos da tia e a beijou carinhosamente nas mãos. Ela deixou corpo gelado e sem vida de Rubi na mesma cadeira onde a encontrou e analisou a situação da sala. Na mesa da frete, um bilhete ensanguentado escrito às pressas:

"Não arruinará mais nenhuma família agora".

Rubi - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora