Reencontro de Amigos

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- Fernanda, nós precisamos conversar – o Dr. Cárdenas a surpreendeu na cozinha, longe de todos, enquanto Fernanda se servia de um copo d'água.

- Não temos mais nada o que conversar.

- É claro que temos – ele estava impaciente e a todo instante olhava para a porta – Mas não aqui, alguém pode perceber que há algo de estranho.

- Alessandro, tudo que havia para ser dito, já foi – ela o encarava com frieza – Já entendi que para você, tudo não passou de uma aventura. Com licença...

Ele a puxou pelo braço e seus rostos estavam praticamente colados um ao outro. Seus corpos se encontraram e o Dr. Cárdenas pode sentir a respiração de Fernanda claramente. Tudo nela lhe atraia, seus olhos, seu cabelos, seu corpo... Ele sentiu que os bicos do seio estavam rígidos e iam de encontro à ele. Ele lhe causara arrepios. Seus lábios foram de encontro um ao outro, e quando estavam tão próximos...

- Dr. Cárdenas – uma das cozinheiras havia adentrado a cozinha – Devo servir agora a sobremesa?

Eles se afastaram e com maestria, disfarçaram o que acabara de quase acontecer.

- Sim, por favor!




- Alessandro, não sabe o quanto me alegro de te ver! – o Dr. Marcos sentava ao lado de seu amigo na sala de estar enquanto acendia um charuto e se servia de um bom whisky. Ambos brindaram ao reencontro.

- E eu mais ainda! Foi uma ótima surpresa! – respondeu honestamente – Gostaria de dizer que podem estender sua estadia por mais de três dias, mas como ando tão ocupado, receio que não poderia lhes dar muita atenção...

- Não se preocupe, meu amigo! Ficaremos por pouco tempo. Em dois dias tenho uma reunião importante no hospital que não posso remarcar.

- Marcos, espero que entenda que não estou lhes pedindo para irem embora...

- De jeito nenhum! – ele compreendeu – Sei que em outro momento, nos receberia por mais dias com enorme prazer aqui. Mas eu realmente tenho planos no trabalho para essa semana.

Eles se abraçaram mais uma vez e continuaram a tomar seu whisky. Não é que o Dr. Cárdenas não gostasse da companhia de seu velho amigo, mas a culpa o impedia de trata-lo normalmente. E como poderia, após haver ele dormido com sua única filha? A mesma que o Dr. Cárdenas vira crescer, pegara no colo um dia e ajudara inclusive a amamentar? O que o Dr. Marcos diria se descobrisse que seu velho amigo fora infiel à sua amada esposa?

- Me alegro muito de saber que Carlinhos vai cursar medicina! – o Dr. Marcos sorria ao falar – Sei que sempre foi o seu sonho!

- É uma alegria imensa – o Dr. Cárdenas também sorria ao dar um longo gole de seu whisky – Não sabe o quanto estou feliz! Espero que ele aproveite muito o curso!

- Ele vai estudar com a Fernandinha – o Dr. Marcos disse despreocupado, enquanto seu velho amigo mexeu-se desconfortavelmente em sua poltrona ao ouvir o nome de Fernanda.

- É o que parece. Gostaria de mais um charuto? – perguntou o Dr. Cárdenas, tentando mudar de assunto.

- Sim, por favor. Imagina se sai algo de bom disso tudo?

- Como assim? – perguntou o Dr. Cárdenas, sem entender.

- Você sabe, se Carlos e Fernanda se apaixonam, futuramente formam uma família. Nossas famílias seriam mais próximas e bom, não confiaria em ninguém melhor que o Carlinhos para subir com ela ao altar.

O Dr. Cárdenas nesse momento, se engasgara com um gole de seu whisky. Com dificuldade, após alguns segundos, conseguiu falar:

- Não seja tolo! Carlos e Fernanda não podem se casar! – o Dr. Cárdenas parecia espumar de raiva. A simples ideia de Fernanda com outro homem lhe fazia enlouquecer.

- Por que não? – o Dr. Marcos estava curioso e zangado ao mesmo tempo. O Dr. Cárdenas percebeu que sua reação fora muito exagerada.

- Bom, você sabe, ainda são muito novos – ele tentava disfarçar seu motivo – Precisam pensar no futuro, ter uma profissão, criar responsabilidade primeiro...

- Bom, isso é óbvio – respondeu o Dr. Marcos, que agora parecia mais tranquilo – Não disse que vão se casar agora. Digo que casamentos duradouros começam com uma grande amizade, e eles podem se conhecer melhor na faculdade. Você entendeu. Além do mais, a Fernanda precisa criar muito juízo ainda, quem sabe o Carlinhos não a ajude com isso.

- Por que acha que ela deve criar juízo? – ele estava curioso.

- Ela é muito, como posso dizer... Ambiciosa. Quer que as coisas sejam da maneira que ela quer. Não gosta de esperar por nada. Se deseja uma coisa, ela bate o pé até conseguir... É assim desde pequena. Me preocupa porque me lembra muito... Bem, você sabe...

- Rubi? – perguntou Alessandro, já sabendo a resposta.

- Sim. Ora Alessandro, vá me dizer que não percebeu a semelhança? Ela sempre foi muito apegada com a tia. Quando foi crescendo, percebemos uma enorme semelhança... Cristina não ficou nenhum pouco contente, você deve imaginar... Rubi não era uma boa pessoa.

- Cristina tem problemas com Fernanda?

- Nesse sentido, sim. Muitas vezes discutiram. Esse é o principal motivo pelo qual decidi pagar um apartamento para que Fernanda viesse morar na capital. Evita brigas em casa e Cristina se estressa menos.

- E você?

- O que tem eu?

- Acha que Fernanda se assemelha muito a Rubi?

- Fisicamente a semelhança é assustadora – respondeu o Dr. Marcos – Quando viemos pra cá e passamos no apartamento de Fernanda para busca-la, Cristina quase caiu de costas ao ver que ela havia escurecido o cabelo. Não pela cor, mas sim porque era como se Rubi tivesse ressurgido das cinzas naquele momento. Discutiram o caminho todo por isso. Eu não me importei, honestamente. O cabelo é dela, tem o direito de pintar como quiser...

- E na personalidade?

- Bom, nesses pontos em que te disse, sim, se parecem muito. Mas acredito que às vezes, Cristina exagera. Ela tem pavor de qualquer traço que se assemelhe aos de Rubi. Ambição não é um defeito, se for moderada. Além do mais, ela não pode haver pegado esses traços de Rubi, já que não tem contato com ela desde seus seis anos de idade. É muito improvável que tenha aprendido a ser uma pessoa ruim como a tia, sem a mesma por perto. Nós a educamos muito bem.

- Disso não tenho dúvidas – respondeu o Dr. Cárdenas – Mas se educação fosse tudo, Rubi não teria se tornado quem se tornou.

- Você percebe traços ruins iguais aos de Rubi em minha filha?

- Não, de maneira alguma – ele foi honesto – É uma menina muito doce e decidida. Também acho que Cristina pode exagerar às vezes. O trauma foi grande.

- E como foi... Até hoje ela não quer saber da irmã.

- Vocês... Sabem algo de Rubi? – o clima de repente ficou pesado.

- Nada. Desde o acidente, ela sumiu. Ninguém sabe se está viva, morta, se está bem ou se continua sendo a mesma amargurada de sempre. Além do mais, o nome dela é proibido lá em casa.

- Imagino. Sinto muito por isso.

- Não sinta. É um alívio não a ter por perto. Você, mais do que ninguém sabe disso. Essa mulher infernizou a sua vida até seus últimos dias aparecida.  

Rubi - O RetornoWhere stories live. Discover now