Explicações e Desculpas

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Uma semana após o escândalo dos casamentos que nunca se realizaram na mansão dos Valencia, não se falava sobre outra coisa em toda a cidade.

Há alguns quilômetros da mansão dos Valencia, Carlos se encontrava em seu quarto, deprimido. Apertava contra o seu peito, uma passagem de avião já amassada e destruída pelas lágrimas. 

Ele se lembrou da humilhação que havia passado quando, no último segundo, percebeu que ela não viria:

- Esse é o último chamado para os passageiros do avião 430, com destino a Nova York - a voz do microfone ressoava no aeroporto - Passageiros com destino a Nova York, por favor, se dirijam até o local de embarque. 

Ele sentou e esperou. Ele esperou por duas, três, oito horas. Mas ela nunca chegou.

Alguém bateu à porta do seu quarto:
- Me deixe sozinho! - Ele chorava.

O Dr. Cárdenas entrou no quarto, com uma bandeja de pão e café:

- Precisa comer alguma coisa - seu olhar era preocupado, mas reprovatório.

- Não quero.

- Vai comer! - o pai se sentou na ponta da cama - Só porque fez uma idiotice, não pode se deixar afundar por ela.

- Como está a mamãe?

- Péssima. Está no quarto, e não acredito que queira te ver pelas próximas semanas. 

- Não foi minha culpa…

- Ah, não foi sua culpa? Deixar uma noiva plantada no altar em meio a todos os convidados, sem ao menos lhe dar uma explicação, não foi sua culpa?

- Você não entenderia…

- Sabe quem entenderia? - seu tom aumentou - Sua mãe! Ela desmaiou quando leu a sua carta no casamento! Sabe o quanto sua mãe sofreu quando foi abandonada no altar há anos atrás? Muito! Ela se acabou! Perdeu a esperança de viver por meses! Ela jurou que nunca mais passaria por isso, até se dar conta de que o seu próprio filho fez isso com outra!

O filho continuava a chorar, deitado na cama e o Dr. Cárdenas começou a lhe servir uma xícara de leite.

- Deveria se envergonhar! Aquela moça deve estar com o coração despedaçado uma hora dessas…

- Eu não a amava!

- Se não a amava, por que foi que a pediu em casamento, em primeiro lugar? - ele gritava - Nada justifica o que você fez! Nada!

- Ela… Ela me convenceu a não me casar - sua voz era trêmula.

- Que? - Ele não entendeu o que o filho quis lhe dizer.

- Me pediu pra fugir com ela! Ela disse que me amava e que me esperaria no aeroporto! Disse que seríamos felizes!

- Quem disse isso? - o Dr. Cárdenas tinha um olhar assustado.

- A namorada do Daniel. Foi ela quem me convenceu a desistir de tudo… A Fernanda!

Nesse momento, o Dr. Cárdenas deixou a xícara cair de suas mãos.

 

Já era tarde da noite quando uma bela moça de cabelos castanhos e olhos verdes foi vista parada em frente ao portão da mansão dos Valencia. O porteiro a reconheceu e imediatamente liberou a sua entrada.

Fernanda caminhou pelo gramado em direção à porta principal, quando se deparou com uma sombra encolhida ao lado da piscina:

- Onde estão todos? - seu tom era calmo.

- Em Nova York - respondeu Miguel - Maria vai se mudar. Foram ajudá-la na mudança.

- Ela não está nada bem, está? - perguntou, sentando-se ao lado dele e colocando seus pés na piscina.

- E tem como estar? - ele deu um gole na garrafa de tequila, que se encontrava mais vazia do que cheia. 

- Desde que horas você está bebendo? - perguntou, ao constatar seu estado.

- Sei lá… Desde a hora do almoço, talvez? - Ele riu.

- Me dê isso - ela tomou a garrafa de suas mãos e ele não contestou - Você precisa comer alguma coisa, vamos! - ela tentou levantá-lo, mas ele não saiu do lugar.

- Não quero, fique aqui comigo! - ele a puxou de volta e ela se sentou.

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos, até que ele falou:

- Você tinha razão… Você sempre teve razão. Deve estar feliz agora - ele tentava conter as lágrimas.

- Eu nunca quis ter razão - ela colocou uma das mãos em seu ombro - E também não estou feliz! Eu só queria que você soubesse a verdade e não se machucasse mais para a frente! 

- Bom, não adiantou de nada pois como você pode ver, eu estou um lixo! - ele apontou para si mesmo.

- Você não está um lixo! É só uma fase ruim que vai passar! 

Ele enxugou uma das lágrimas de seu rosto e a olhou nos olhos:

- Me desculpe por duvidar de você. E também por contar à Valéria sobre o amendoim.

- Não precisa se desculpar - ela o olhava com piedade - Você fez o que achou correto!

- Talvez… - ele se deitou no chão, apenas com os pés submersos na piscina - Eu só quero que esse pesadelo acabe!

- Quer ouvir uma coisa engraçada? - ela se recostou ao lado dele, se apoiando em um dos cotovelos.

- Quero! - ele virou seu rosto em direção ao dela.

- Sabia que o Sr. Valencia e o Loreto tem um caso? - ela riu.

- Como é que é? - ele se levantou às pressas sorrindo, tentando se apoiar nos cotovelos, mas imediatamente se arrependeu - Ah, merda… Está tudo girando! 

 - Venha, vamos te dar um banho - ela se levantou e o puxou - Você precisa comer!

- Mas eu não quero ir - seu tom era manhoso.

- Mas precisa levantar! Vamos lá! 

Ela tentou levantá-lo, mas ele a puxou para si. A abraçou e com um impulso, jogou-se com ela dentro da piscina. Em poucos segundos, ela emergiu da água assustada:

- Puta merda! - ela tirava o salto e colocava para fora da piscina - Essa água está congelando! - ela gritava e tremia.

Ela sentiu as mãos dele segurarem sua cintura e a virar de frente para si. Ele a prensou em um dos cantos da piscina e ela sentiu o frio abandonar o seu corpo imediatamente, dando lugar à uma sensação de calor e de mil borboletas flutuando em seu estômago. Seus rostos se colaram e os olhos dele estavam fechados, apenas sentindo o calor de seu corpo e seu perfume. 

As mãos dele deslizaram pelo desenho do corpo dela, traçando uma linha desde sua coxa até seus cabelos molhados, deixando que sua mão se encaixasse suavemente em seu pescoço. Ela entrelaçou seus dedos nos cabelos molhados dele e sentiu sua respiração junto à dela, urgente, ardendo em desejo. Lentamente seus lábios se encontraram em um beijo caloroso e ela sentiu que nada mais existia além dele. Ela lhe mordeu delicadamente os lábios, mas ele a empurrou abruptamente para o outro lado, até que…

- BLEEEEEEER

Ele vomitou no chão, ao lado da piscina. 

“Que cena maravilhosa” - pensou, ironicamente.

- Espero que - ele falava enrolado - não tenha interpretado isso como uma resposta ao que acabou de acontecer, porque eu…

Ele vomitou novamente.

Rubi - O RetornoWhere stories live. Discover now