Descanse em Paz

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Ainda era de madrugada quando alguém bateu à porta do quarto.

- Levantem!

Sem uma segunda batida, a porta se estirou completamente e eu puxei o lençol para cima de mim e do meu namorado. Avistei Maria a porta, já pronta para lhe dar um sermão sobre privacidade, quando percebi que ela estava chorando:

- O que houve? - Daniel estava confuso e preocupado.

- A... Mamãe e o papai - ela soluçava.

- O que tem eles? - Daniel se levantou às pressas. Maria não conseguia dizer - Maria, o que houve? - Ele estava em pânico, e eu também.

- O avião deles... C-caiu! - ela começou a se debulhar em lágrimas e eu olhei para Daniel em pânico.

Ele se sentou na cama e colocou as mãos na cabeça. Houve silêncio. Eu não sabia o que falar, estava em choque demais para proferir qualquer palavra.

- Houve sobreviventes? - ele perguntou, temendo a resposta.

- A-alguns. Poucos - ela soluçava - mas ainda não deram notícias.


O clima estava chuvoso quando cinco pessoas foram vistas saindo do IML naquela tarde: o irmão mais velho consolava a irmã, que não conseguia parar de chorar, enquanto Carlos, Fernanda e Miguel estavam ao seu lado, compartilhando sua dor e sem saber o que dizer.

O corpo de Angelina Valencia foi encontrado dentre as 398 vítimas fatais da queda do avião que transportava passageiros do México para Nova York. Antonio Valencia foi encontrado como um dos 12 sobreviventes e se encontrava internado em estado grave no hospital Buenaventura. Os cinco entraram no carro em meio às lágrimas e rumaram em direção á ele:

- Por favor, estamos buscando o quarto do senhor Antonio Valencia - Fernanda se dirigia a uma das recepcionistas.

- Só um minuto. O sr. Valência, sim, ele está no 108. Mas temo que não possa receber visitas por enquanto.

Maria já estava prestes a gritar com a recepcionista, quando ouviu uma voz que se dirigia à esta:

- Pode liberá-los, eu dou permissão.

Alessandro Cárdenas se encontrava parado na recepção com um olhar de pesar. Cumprimentou a todos - inclusive a Fernanda - e se dirigiu a Daniel:

- Eu sinto muito pela sua mãe! Era uma grande amiga da família - Daniel agradeceu - quanto ao seu pai, estamos fazendo o possível para que se recupere! Podem visitá-lo, mas temo que ainda não esteja acordado!

Eles agradeceram e rumaram em direção ao quarto, mas não antes do Dr. Cárdenas e Fernanda trocarem um breve - porém intenso - olhar.

O Sr. Valencia estava entubado, com várias feridas por todo o corpo. Era realmente um milagre que tivesse sobrevivido. Os filhos se prostraram um em cada lado da maca com suas mãos sob o pai, na esperança de que o mesmo acordasse a qualquer momento.

Era evidente que nada podia ser feito, a não ser, aguardar sua recuperação. Todos se retiraram do quarto do paciente prontos para irem embora. Quando estavam à porta do hospital, Fernanda avisou de relance o amigo Loreto se encaminhar sorrateiramente em direção ao quarto 108. Eles trocaram olhares e ela podia dizer que ele estava abalado. Entendeu o recado e guiou todos para fora o mais rápido possível, para que o amigo pudesse passar um tempo a sós com seu amante.

O resto da tarde foi sombrio. Fernanda acompanhou seu namorado no funeral da Sra. Valencia. Todos se encontravam de preto, inclusive Fernanda, que trajava um vestido longo com um blazer, meia calça e sapatos pretos e um chapéu com um pequeno véu preto cobrindo seu rosto. Ainda chovia e todos os presentes ali levavam um guarda-chuvas.

Entre os presentes, se encontravam o Sr. e a Sra. Cárdenas, Miguel, juntamente de seus avós, seus pais e Valéria, Maria e Carlos, alguns dos empregados da família e mais umas quinze pessoas.

Fernanda esteve presente durante todo o funeral ao lado de seu namorado, que a abraçava e vez ou outra, não conseguia conter as lágrimas. O Sr. e Sra. Cárdenas se encontravam lado a lado, mas não exibiam nenhum tipo de afeto. Um breve olhar entre Alessandro e Fernanda foi trocado e não passou despercebido por Miguel.

Ao final do funeral, todos os presentes se cumprimentavam. Uma fila foi feita para prestar condolências aos filhos da Sra. Valencia:

- Sinto muito pela sua mãe - o Dr. Alessandro passou cumprimentando o filho mais velho dos Valencia - Fernanda, como vai? - eles apertaram as mãos brevemente.

- Muito bem, obrigada! - respondeu sem dizer mais nada.

- Fernanda, é um prazer te rever, pena que em uma ocasião como essas - Maribel a cumprimentou.

- Sra. Cárdenas, igualmente - ela retribuiu o aperto.

- Vejo que já está namorando? - ela olhou para Daniel e novamente para Fernanda.

- Sim! - Fernanda se aconchegou mais ao braço de seu namorado - Estamos juntos há alguns meses.

- Ela tem me ajudado muito nessa hora - Daniel comentou.

- Imagino que sim! - respondeu Maribel - é sempre bom podermos confiar em quem amamos! Fico feliz que tenham encontrado o amor verdadeiro um no outro!

- Eu também - Fernanda respondeu olhando para o Dr. Cárdenas.

Rubi - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora