O Acidente

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- Uau, você está jogando péssimo hoje, parabéns – disse Daniel para o amigo Miguel, enquanto mirava em uma das bolas na mesa de sinuca em sua mansão.

- Não tenho dormido direito – respondeu o amigo, dando um gole na cerveja.

- Por que?

- Bom, você sabe, meu padrasto não é fácil... Mas não quero falar disso, vamos falar de outra coisa.

- Certo. Como foi com a menina do segundo ano? – perguntou o amigo, se referindo à garota que estava com o amigo na festa.

- Foi normal.

- Normal? – o amigo o olhou surpreso – Cara, você não parava de falar dela e vem me dizer que foi "normal"? Aí tem coisa...

- Não é nada demais. Só acho que quando criamos muita expectativa em cima de algo, podemos quebrar a cara. Foi o que aconteceu comigo.

- Bom, nesse caso posso garantir que não te entendo. A Fernanda finalmente me beijou e foi melhor do que eu esperava...

- Beijou? – o amigo estava indignado – Depois de todo esse tempo? Achei que vocês já tivessem transado há séculos.

- Infelizmente ainda não – disse ele se concentrando na bola de sinuca – Mas espero que muito em breve.

- Pelo amor de deus! O que aconteceu com você? – o amigo continuava indignado – Antigamente era uma mulher a cada dia, hoje está aí, aguardando meses pra receber um beijo de uma mulher que só te enrola...

- Ela não me enrola. Ela precisa do tempo dela.

- Daniel, por favor. Já lidamos com esse tipo de mulher antes. Não acredito que você ainda não percebeu a jogada dela...

- Que jogada?

- Ora, a de se fazer de coitada, ofendida. "Ai, por favor, não vou aceitar esse carro, sou humilde demais para andar com uma Mercedes...", só idiotas caem nessa. Não é à toa que as pessoas se apaixonam por ela, tenho que admitir, ela sabe jogar...

- Quem se apaixonou por ela? – perguntou curioso.

- Se lembra do meu amigo Carlinhos, que trouxe aqui?

- O que está saindo com a minha irmã? Lembro sim, gostei dele...

- Pois é, ele é outro idiota. A Fernanda comeu a mente dele por um tempo e ele ficou pelos cantos da faculdade chorando por ela. Ainda bem que consegui fazê-lo acordar... Agora, parece que finalmente se acertou com a sua irmã.

- Você quer dizer então que vai ficar enchendo o meu saco todos os dias até que eu termine com a Fernanda? – perguntou o amigo, despreocupado.

- Não.

- Não? – o amigo o olhou curioso – Achei que não gostasse dela.

- E não gosto, mas não vou ficar me intrometendo nas suas decisões. Além do mais, você não é inocente como o Carlinhos, sabe onde está se metendo. Se você consegue lidar com a situação, não sou eu quem vou atrapalhar.

- Bom, agradeço por isso – respondeu o amigo, acertando uma das bolas no buraco da mesa.




O Dr. Cárdenas havia acabado de terminar o seu expediente quando desceu até o estacionamento do hospital. Hoje fora um dia cheio e ele não via a hora de chegar em casa para descansar. Engatou a ré e por um descuido, escutou uma batida e um grito.

Saiu desesperado do carro e avistou uma mulher caída:

- Fernanda? Meu deus! – ele prontamente se colocou a ajudá-la.

Rubi - O RetornoWhere stories live. Discover now