Capítulo 3. Parasitas

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– Então você pode me tirar dele. – Ele sugeriu, como se fosse simples assim; como se eu pudesse simplesmente pegar uma serra e dividi-lo no meio e isso resolvesse o problema.

– É muito mais fácil tirar um parasita de um humano do que um humano de seu hospedeiro... Porque os humanos são os parasitas mais eficientes da galáxia.

– Mas como eu posso ser o parasita?

– É um ciclo complexo... Quando você foi engolido pelo fevino seu corpo foi dissolvido, mas seu sistema nervoso se emaranhou ao dele. – Tentei resumir. – Seu medo levou o fevino a fazer tudo que fez, então, na verdade, os dois são culpados pelo crime... – Ele me encarou como se não fosse capaz de entender, mas o medo no seu rosto me dizia que entendia bem. – Quando o fevino estava do lado de fora ele usou os próprios recursos para re-produzir você embaixo da pele dele e, quando vocês não estavam mais em perigo, o corpo dele se descascou como um casulo e libertou você de novo. Agora, nesse exato momento, ele está hibernando embaixo da sua pele... Para emergir quando vocês estiverem em perigo de novo...

– Então você está dizendo que eu fui reconstruído?! Não pode ser possível. – Eu também teria achado impossível, se não tivesse passado por uma matéria inteira na faculdade só estudando parasitoses humana... Com os humanos como parasitas.

Levantei a blusa dele e apontei para os músculos de seu abdome.

– Sem umbigo. – Ele se encarou como se um alienígena estivesse explodindo dali. – Seu corpo foi refeito. Então não tem cicatrizes. – Naquele momento, tomado por tanto terror, ele fez menção de gritar por algum socorro que nunca viria, mas então eu voei minha mão em sua boca. – Eu posso ajudá-lo... Se você me ajudar.

Afastei meus dedos de seus lábios como se desarmando uma bomba e, quando ele abriu a boca, jurei que fosse me explodir:

– O que você quer?

– Ir para o núcleo da galáxia.

Ele riu.

E então percebeu a seriedade no meu rosto.

– Está falando sério? Nós estamos no ponto da galáxia mais distante do núcleo possível!

– Eu sei.

– E existem muitos monstros no caminho.

– Eu sei.

– E não tem nada lá!

– Já isso... – Me inclinei. – Eu não sei. E nem você.

Ele não me parecia o tipo de criatura que passava pelo núcleo... O tipo morto. E o longo suspiro que ele soltou confirmou minha especulação.

– Tudo bem. Eu a levo. – Ele se rendeu, abrindo um sorriso no meu rosto que o deixou mil vezes mais mal-humorado. – Se você cumprir com a sua parte.

– Eu sou uma humana de palavra.

Me aproximei de seus pés e usei o cartão de identificação em meu braço como chave para libertar seus tornozelos, que ele moveu como se os usasse pela primeira vez. Soltei um de seus braços e parti para o outro, enquanto ele estalava os nós dos dedos da mão livre – uma mão que podia me segurar às bordas de um penhasco... Ou podia me empurrar.

E então, quando o libertei de sua última algema, ele sorriu.

Seus dedos tomaram meu braço, me puxaram para a maca e, com reflexos tão velozes quanto o de uma fera, ele trancou a algema ao redor do meu punho.

E, fácil assim, eu estava presa onde ele não deveria ter deixado de estar.

– Já eu não sou um humano de palavra... – Ele ronronou, brincando com meu bracelete roubado. – Você vai ter mais sorte com alguma outra espécie.

Endossimbiose | Versão Em PortuguêsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora