Capítulo 31. Olhos

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Minhas pernas tremiam tanto que não sabia como estava conseguindo seguir Korrok. Meu medo era munição para os seres ao meu redor, principalmente Kadi, então eu precisava escondê-lo o máximo possível. Ergui a cabeça e segui para os lobos famintos que me esperavam.

Eu precisava descobrir por que minha mãe tinha se virado contra a rebelião; por que ela tinha me instruído tanto a ir para o núcleo da galáxia, se não era ela que eu encontraria lá... Me infiltrar na rebelião era minha melhor alternativa para conseguir respostas; ainda que eu simplesmente não conseguisse confiar.

– Você cheira a medo, sapiens. – Korrok rosnou.

– E você a morte.

Ele riu; e eu conseguia sentir o olhar de Kadi perfurando as minhas costas.

– Obrigado. – Ele retrucou. – Será seu cheiro se você não parar de tremer.

Dessa vez eu não respondi.

As criaturas me esperavam formando um círculo na praça central de Venerna. Encarei o mosaico das suas peles, escamas, penas, dentes e garras, tão variados, imensos e poderosos que nada eu podia fazer além de me sentir intimidada... E imaginar todas as diferentes formas como eles podiam me matar. Mas não importava que aqueles seres fossem puro poder em carne, porque eu sabia que eles podiam me destruir sem nem mesmo me tocar; e o que eu me perguntava era se, algum dia, eu não seria esmagada o suficiente para crescer.

Quando eu estava começando a ter certeza de que não sobreviveria, um dos seres chamou a minha atenção: Plumala; voando calmamente na minha direção como se não houvesse nada para temer naquele ninho onde eu me enfiava.

– Agradeço por trazer os humanos, Korrok. – Ela o cumprimentou. – Agora posso ter a companhia de seres além daqueles bárbaros.

– Não se engane, pombinha... – Korrok sibilou. – Humanos são os piores.

E então Korrok e Kadi partiram para se juntar ao círculo, me deixando com a columba, que prontamente me estudou:

– Não imaginei que estivesse tão envolvida com essa causa...

– Nem eu. Mas meus inimigos mudaram.

Ela inclinou a cabeça para o lado, curiosa.

– Inimigos não mudam, Donecea. – Meu nome... Ela o sabia. E eu me perguntava o que mais aqueles seres pudessem saber sobre mim. – Nesse universo cruel, ou você os elimina, ou acrescenta novos à sua lista.

– Estou fazendo uma coleção deles, então.

– E de aliados também.

Confirmei com a cabeça para seu sorriso caloroso e então seguimos em direção aos líderes da rebelião.

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Quando me aproximei, todas as conversas cessaram.

– Fique no centro do círculo, sapiens.

Obedeci e me sentei no chão, como se fosse o sacrifício do dia. Os olhos ao redor se enterravam na minha pele, como se pudessem ouvir cada vibração do meu corpo trêmulo. Não havia um movimento que eu fizesse que não fosse percebido, nenhum sentimento meu que não pudesse ser sentido e nenhum segredo que em mim pudesse ser contido... Eu tinha me tornado totalmente transparente.

Enviei um olhar para Kadi, que se mantinha fora do círculo, talvez porque não o deixassem se aproximar, ou talvez porque não quisesse... Longe demais para me salvar; tarde demais.

Endossimbiose | Versão Em PortuguêsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora