Capítulo 21. Linfonodo Sentinela

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Segundo círculo do Império
Distrito de Proteção

Eu tinha me esquecido do quanto humanos eram capazes de decepcionar uns aos outros... De que acreditar não alterava a visão dos outros e confiar não os tornava confiáveis... E Kadi era um humano como qualquer outro; tão destrutivo e decepcionante quanto. Eu não podia simplesmente perdoá-lo por envenenar uma criatura, – um Áulico, ainda por cima – mas, na realidade, eu nem tinha de fazer aquilo. Apenas o envenenei com o meu silêncio e, talvez quando chegássemos no núcleo da galáxia, eu abrisse a boca para agradecer. Até lá, eu não tinha mais nada para dizer.

Decolamos para longe do Distrito de Destruição e eu odiei o quanto não havia lugar para se esconder naquela nave.

– Doxy... – Eu nem podia fingir que não o ouvia. – Eu também não gosto disso... Mas não acredito que a solução esteja só no núcleo da galáxia.

– Você não acredita em mim?

– Eu nem sei no que acreditar! Você nunca me contou o que pretende fazer lá! – Nos seus olhos eu vi o quanto ele estava lutando para confiar em mim, ainda que contra todos os seus instintos. – Como você vai resolver tudo isso, Donecea? Como você quer salvar o Império?

Suspirei. Eu não tinha sido inocente ao ponto de achar que chegaria no núcleo sem ter de dar respostas, mas nunca estive preparada para quando esse momento chegasse. Como eu podia colocar aquela sensação em palavras? Será que eu deveria tentar colocá-las para ele? Talvez se eu não contasse, ele desistisse do acordo e me abandonasse em algum planeta pelo caminho, para se arriscar sozinho com o fevino. Será que eu deveria tentar enganá-lo com o remédio errado na sua próxima dose? Será que, se eu tentasse de novo, ele desconfiaria? E será que eu tinha coragem de torná-lo um alvo caso eu precisasse para chegar no único lugar onde a minha existência faria sentido? Talvez ele tivesse coragem de me tornar um, caso esse fosse o desejo da rebelião...

– Eu quero ajudá-la... – E então todas as minhas muralhas desabaram. – Eu só queria entendê-la...

Talvez eu pudesse confiar.

E, talvez, eu pudesse dá-lo o remédio certo no noxdiem seguinte.

– Existe uma doença na galáxia... Que surgiu muito antes da Terra entrar para o Império... – Comecei, evitando a surpresa nos seus olhos, porque até ele não esperava que eu fosse dá-lo respostas. – Ela manipula e controla os infectados, ao ponto de não quererem nada além de se juntar à Rainha e destruir o Império com o mais puro caos... – Engoli em seco, apertando meus dedos nervosos uns contra os outros. – O Império era perfeito antes... Mas então a doença trouxe as injustiças que dominaram os mundos e fomentaram sua rebelião, uma mera consequência de um problema muito maior... – Respirei fundo. – Se a doença for eliminada, tudo voltará à harmonia de antes... – Ergui minha coluna em um impulso de coragem. – Acredito que a Rainha esteja no núcleo da galáxia... E eu pretendo matá-la.

Kadi não falou nada por tempo demais, cavando círculos com os pés no piso da nave. Talvez ele não entendesse como uma doença conseguia corroer o Império de dentro para fora, mas eu tinha visto de perto o que ela era capaz de fazer com as mentes que tocava.

– Como sabe tudo isso?

– Minha mãe estava estudando a doença. E me deixou instruções. – Joguei as cartas sobre a cama dele, onde estava escrito cada passo que eu deveria tornar meu.

– Mas como você confia que isso esteja certo? Como sabe que não passa de um... Equívoco?

Gaxy não cometia erros.

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