Capítulo 12. Sepse

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Segui Korrok até uma máquina comprida com uma arquitetura em que um humano podia se encaixar, mas não confortavelmente – uma espécie de motocicleta. Liguei-a e senti sua potência rugindo, ansiosa para correr, e percebi que estava sorrindo quando Korrok soltou uma risada atrás de mim, adorando o quanto eu estava gostando daquilo. Mas era apenas um poder temporário – tão temporário quanto eu era para ele.

Meu sorriso se converteu em uma careta.

– Qual a missão?

Korrok me entregou uma pastilha. Branca, quadrada... Inofensiva.

– Vê o palácio? – Ele apontou para a estrutura no horizonte que víamos do topo do galpão. Aquele era o centro do controle dos Áulicos no Distrito de Sangue, e cada distrito tinha um, todos respondendo àquele no Distrito de Poder. – Vê a torre mais alta? – Assenti. – Eles a transformaram em um reservatório de sangue... E tudo que precisamos é que você derrube essa pastilha dentro dele.

Encarei o quadrado na minha mão. Não tão inofensivo, pelo visto...

Ele estava realmente me pedindo o que eu estava pensando?!

– Vocês querem que eu envenene o reservatório do palácio?!

– Você sabe o que eles vão fazer com aquele sangue?! – Korrok se aproximou e então me tornei pequeno. Só seus olhos já eram quase do tamanho da minha cabeça, perto o suficiente que eu conseguisse ver o líquido vermelho fluindo por eles. Meu silêncio o motivou a continuar: – Eles estão criando um exército de super-soldados, Phaga. E sabe o que eles vão fazer com ele? Nos massacrar!

Me encolhi.

Eu não sabia que a guerra tinha escalado a esse ponto. Achei que os Áulicos só usariam o sangue como sempre usavam: como fortuna; já que a economia do Distrito de Sangue se baseava nele. Mas a formação de um exército era outra história... E uma assustadoramente possível.

Um vorrampe bem alimentado era o tipo de monstruosidade que eu, pessoalmente, escolheria para guardar os portões do inferno se eu estivesse governando atrás deles; e cada uma daquelas criaturas não precisava de muito sangue para chegar a esse ponto. Eu me perguntei o que os Áulicos conseguiriam fazer com todos aqueles litros guardados na torre...

– Como sabe disso? – Indaguei.

– Os Áulicos começaram a recrutar mais soldados do que o normal recentemente. – Sua pausa despertou um calafrio na minha nuca, que se estendeu até a pastilha em minha mão. – Além disso, eles estavam comprando containers do Oásis; e nós conseguimos roubar um deles... E estava cheio de sangue.

– Mas não existem mais humanos lá. – A fonte tinha secado.

– Eu sei. E foi porque mandamos os rebeldes os tirarem de lá. – Isso explicava muita coisa. – Mas antes disso outros Áulicos passaram aqui, provavelmente porque os outros distritos vão querer um pedaço desse exército também. – Engoli em seco. – Não podemos deixar isso acontecer.

– Parece uma situação difícil. – Suspirei. – Mas o que eu tenho a ver com isso? Me dê outro trabalho. Eu não me envolvo com essa guerra.

Não ia cometer os erros dos que vieram antes de mim.

As guerras não passavam de um reflexo do poder das nações e de sua sede por mais. Eu queria me manter longe, para não ter de carregar na consciência o peso das mortes que poderia causar por elas.

Já bastavam os que eu já tinha.

As garras de Korrok pousaram ao meu ombro, – um gesto assustadoramente amigável, se não pudesse me estraçalhar.

Endossimbiose | Versão Em PortuguêsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora