Capítulo 45. Fúria

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Algum tempo depois eu acordei, ao ouvir Kadi se arrumando, e abri os olhos para vê-lo deslizar uma jaqueta por sobre os ombros.

– Vai sair? – Murmurei, rouca e meio adormecida.

– Korrok tem uma missão para mim.

Me estiquei na cadeira.

– Eu devo me preocupar?

Ele abriu um sorrisinho de canto, tão bem-vindo depois de ontem... Pelo visto ele estava com um humor melhor, mais entendido, menos sozinho.

– Algo me diz que você está preocupada. – Dei de ombros. Aquilo era parte da minha natureza. – Korrok faz isso às vezes, quando quer me relembrar que é ele quem está no poder...

– Porque nós "inexplicavelmente" o acordamos no meio da noite? – Já que Korrok não se lembrava da nossa conversa.

– É a minha principal teoria.

– E por que eu não fui convidada para a diversão?

Kadi se aproximou devagar. Me contorci quando ele inclinou seu corpo sobre mim, as mãos aos lados do meu corpo se apoiando na cadeira e o rosto pairando diante de mim.

– Talvez seja porque ele já entendeu que essa mensagem você nunca vai aceitar... – Kadi sibilou e eu abri a boca, mas nada falei... Porque ele não estava errado. – Aproveite para se esconder aqui mais um pouco, enquanto o sol ainda não nasceu. – Então ele me deu um beijo na testa e partiu para a sua missão.

Segui seu conselho e, depois de algumas horas, escorreguei para fora da Hasta. Fui até o refeitório de Venerna, em um nível da encosta alto o suficiente para que eu pudesse ver o oceano azul atrás das janelas de pedra. Peguei um prato com a ração estranha da cidade e me sentei próxima à vista oceânica, mais distraída com as ondas do lado de fora do que com a minha própria comida. Depois de alguns minutos, Plumala se juntou a mim.

– Aposto que está se arrependendo por não ter provado as frutas de Avória. – Ela brincou, apontando para a ração cinzenta que eu revirava no prato. – A vista compensa, pelo menos.

– Os privilégios de ser uma "revolucionária".

Revolucionária? – Ela me estudou. – Então estar aqui já não é mais um erro para você?

Encarei a columba e confrontei aquilo em que eu realmente acreditava:

– Não é um erro se há tanto acertos que eu posso cometer.

E, de todos os caminhos que eu tinha pensado em trilhar, aquele ainda podia me levar ao meu objetivo.

– Estou farejando isso certo? As duas criaturinhas mais frágeis da revolução, comendo juntinhas! – Lupan subitamente latiu, sentando-se na nossa mesa mesmo quando protestamos. – Não é todo noxdiem que há algo tão adorável nesse antro de feras.

Então eu fiz questão de paralisar os músculos da sua boca com um jato da minha toxina.

– Lupan, calado?! – Deinos comemorou não muito depois, se juntando a nós. – Você é mais útil do que eu pensava, Donecea!

Ao ver Judin passar algemado pela nossa mesa, – em uma de suas poucas horas livres que tinha para caminhar por Venerna – o espinero o puxou para que se sentasse conosco e o humano quase caiu na bocarra aberta de Lupan. Que Judin não me enviasse um olhar pedindo ajuda, porque eu não achava que eu seria muito melhor do que aquelas feras.

– E como você está se sentindo, Deinos? – Investiguei. – Depois que eu salvei a sua vida. – E lembrei. O espinero me enviou um olhar perspicaz.

Endossimbiose | Versão Em PortuguêsUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum