Capítulo 41. Cicatrização

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Saí da tenda para descartar o membro de Deinos e me apoiei nas caixas acumuladas do lado de fora, em uma tentativa de recobrar a compostura que eu me sentia perder. Arkadi quase tinha desmaiado lá dentro; e eu não me sentia muito diferente, mesmo tentando não mostrar... Porque alguém ali precisava fingir que tudo estava sob controle, na esperança de que algo eventualmente estivesse.

Ali fora, na pureza da neve, eu vi um pione furioso ser levada para uma das tendas iátricas, coberto pelo pó e se debatendo como uma fera... O primeiro contaminado do inimigo que vi, e terrivelmente insatisfeito em estar do nosso lado.

Como a aericose o traria para o nosso lado? Não consegui me impedir de segui-lo, curiosa pela resposta. Os soldados da rebelião o amarraram em uma maca pálida e o abandonaram com feridas que o drenavam pelo chão, como se não tivesse sido feito tanto esforço para que ele fosse trazido ali com vida. Me aproximei devagar para avaliar seu corte, mas o pione se debateu violentamente, contorcendo seu ferrão em uma tentativa de cravá-lo em mim. Cogitei voltar para aqueles que realmente queriam a minha ajuda, quando um pensamento cruzou minha mente...

A contaminação era apenas uma sugestão – que ele claramente não tinha aceitado – então talvez eu pudesse usar meu sangue para curá-lo dela... E talvez eu pudesse fazer isso por todos os contaminados da rebelião, até libertar o Império inteiro daquela praga que minha mãe tanto tinha me alertado...

Me voltei para o pione. Eu tinha que começar de algum lugar.

Ergui meu bisturi e o cravei no próprio braço, buscando por uma artéria que, quando atingi, espirrou meu sangue para fora. Derramei-o em um copo raso até que estivesse cheio o suficiente para um gole e o aproximei da criatura. O pione tentou fugir ainda mais, como se eu tivesse morte líquida nas mãos, mas as amarras não o deixaram fugir e meu sangue eventualmente escorreu abaixo pela sua garganta. O escarlate do meu interior transbordava pelos lados da sua boca, pintando tudo de vermelho conforme ele mais e mais se acalmava e parava de lutar, agora que estava livre daquelas ideias invasoras na sua mente...

Estava funcionando...

Mas então eu percebi que o pione não estava respirando...

Inerte... Imóvel... Estático...

Me aproximei às bordas da maca e me agarrei a ela como um naufrago, incapaz de acreditar no que meus próprios olhos estavam vendo.

Ele estava morto.

Mas... Como?!

Não era para isso ter acontecido...

Meu sangue deveria tê-lo curado... Tê-lo libertado!

Por que ele estava morto?!

Imediatamente corri para o lado de fora da tenda. Minhas pernas fraquejaram e eu desabei na neve sobre minhas mãos e joelhos, incapaz de encontrar forçar para me erguer mais uma vez.

Aquele soldado tinha sido morto pela "cura" no meu sangue... Um veneno que invadira suas células contaminadas e destruíra tudo que tinha sido aparentemente programado para destruir até transformar seu corpo em uma terra desolada. Eu acreditara com todo o meu coração que a cura em mim traria liberdade para aquelas mentes manipuladas, mas, na verdade, minha mãe tinha injetado em mim morte destilada, para ceifar as vidas daqueles que um dia eu sonhei salvar...

Eu era a arma do Império... Munida com uma "cura" que nunca tinha sido feita para salvar, mas para destruir aqueles que se erguiam contra os Áulicos.

Me lembrei de quando, na nave que Bleine nos forneceu para que chegássemos ao núcleo da galáxia, os soldados fageines morreram ao tocar meu sangue... Contaminados. E pensar que eu tinha acreditado quando o metriona disse que tinha nos resgatado de um ataque do Aulicado, enquanto que, na realidade, ele tinha planejado tudo aquilo apenas para ganhar a nossa confiança.

Endossimbiose | Versão Em PortuguêsWhere stories live. Discover now