Capítulo 19. Cicatrizes

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Terceiro círculo do Império
Distrito de Destruição

Depois que os acordos foram decididos, eu, Kadi e Korrok retornamos para a clareira onde a nave estava. Kadi estirou a mão para Korrok, que o entregou um saco de pedras estelares quase maior do que a sua mão.

– Isso foi divertido... – Korrok sibilou.

– Vá pro inferno. – Kadi murmurou palavras que eu não conhecia, enquanto contava as pedras.

– Que isso, Phaga? Achei que fossemos amigos.

Amigos? Você contou para as columbas que estávamos com você! – Rosnei e Korrok trancou os dentes, como se precisasse fazer isso para contê-los. – De onde eu venho capitães lutam por seus navios; e não os arrastam para o fundo.

– De onde eu venho, os mares são feitos do sangue daqueles que afundaram... Para que os navios possam flutuar. – Ele rosnou, me enchendo de chamas. Mas, antes que eu pudesse retrucar, Kadi colocou a mão nas minhas costas e me conduziu para a nave. Aquela não era uma batalha que valia a pena lutar. Mas então Korrok pulou entre nós e a Hasta, sorrindo. – Indo tão rápido? Não me olhem assim, tão estressados... Eu sei um lugar ótimo onde vocês podem relaxar.

– Nós temos o que fazer, Korrok. – Kadi retrucou. Bom que ele sabia.

– E como esperam fazer bem seja lá o que planejam tão estressados? – O vorrampe provocou. – Aceitem isso como agradecimento por sua ajuda... – E então, olhando para mim: – E como um pedido de desculpas por afogá-los.

Kadi inspirou fundo e eu imediatamente soube que tinha se rendido. Ele me enviou um olhar de canto e murmurou:

– O núcleo não vai a lugar nenhum...

E então eu que estava suspirando.

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Pousamos no Distrito de Destruição, diante de portões tão colossais como a entrada dos parques de diversões que minha mãe me levava quando eu era criança – talvez naquela época eles só parecessem tão gigantescos porque eu era tão menor... Mas agora eles realmente mereciam aquele adjetivo.

Kadi estacionou sua nave em uma das últimas vagas e antes de entrarmos, Korrok pegou óculos transparentes de uma pilha à frente do portão e nos entregou. Não eram óculos feitos para humanos, – os meus tinham 3 olhos, e os de Kadi 3 pares – mas conseguíamos enxergar por eles.

– As lentes vão contabilizar tudo, mas não se preocupem. Está na minha conta. – Korrok explicou, me deixando mais confusa do que antes. – E não se esqueçam da festa depois.

– Você não vem? – Kadi o questionou.

– Não estou estressado.

Então o vorrampe se virou e foi embora.

Do outro lado daqueles portões centenas de casas e veículos com os mais diversos formatos e cores se estendiam até o horizonte, em uma espécie de subúrbio alienígena; e eu não conseguia pensar em nenhuma motivo para que estivéssemos ali. Kadi, que parecia saber o que estava fazendo, pegou duas ferramentas de tortura que estavam penduradas perto da entrada e colocou uma delas nas minhas mãos confusas. Será que aquelas casas estavam vazias?! Eu podia apenas desejar.

Quando percebeu o medo no meu rosto, Kadi abriu um sorriso perigoso que não me confortou nenhum pouco e então se aproximou de uma das casas. Ele testou a firmeza dos pés no chão, ergueu sua ferramenta, que era um enorme machado de 4 lâminas, e, com um movimento preciso e veloz, o chocou contra a parede. A casa inteira tremeu sobre suas bases por um instante como uma torre de gelatina e, em um piscar de olhos, explodiu em uma chuva de areia brilhante que tomou a noite em resquícios reluzentes.

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